quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Dedos sujos

O Brasileiro ainda não compreende em sua plenitude o poder de um voto e o impacto que essa ação tem em sua vida. Se tivesse se dado conta disso ante veria que a lei da ficha limpa não tem por objetivo real "peneirar" dentre os postulantes aos cargos eletivos aqueles que podem ou não participarem do pleito. A lei na verdade age sobre o eleitor inconseqüente que vota em qualquer um, independentemente de seu histórico e de sua postura no que tange ao tratamento do bem público.

Hoje ao votar, o eleitor não se preocupa com a coletividade, afinal o que importa é a sua situação pessoal. Se tenho emprego, porque votar em alguém que me promete criar mais empregos? Se tenho casa porque votar em alguém que promete construir novas moradias? Preocupações com o meio ambiente, câmbio, política externa, importações e reforma agrária são ainda mais abstratas. O eleitor vota conforme sua conveniência, assim quando aparem políticos que lhe prometem aquilo que ele quer ouvir, pouco importam sua ética ou mesmo a legalidade da proposta, já está eleito.

Esse comportamento amoral (ou imoral talvez) explica como alguns políticos reconhecidamente corruptos conseguem se eleger com facilidade e não raramente com um número soberbo de votos. Por outro lado, quando encontramos políticos resistem à tentação de oferecerem qualquer coisa em troca do voto, mas oferecem coisas como por exemplo educação de qualidade, melhoria da gestão do orçamento ou reformas institucionais o eleitor raramente consegue ver nisso um benefício, muito embora tais coisas sejam justamente as que ele mais necessita enquanto cidadão.

Parte disso é reflexo da atual cultura de consumo imediato com a qual somos bombardeados constantemente. Se os objetivos e o retorno do investimento só vem no longo prazo então não é atrativo, não importa quão valioso seja. Do contrário, se tenho lucro e retorno garantido agora, então vale a pena sacrificar a saúde e a educação em prol de um cargo de confiança ou de um lote, ainda que dentro de uma área de proteção ambiental.

Outra causa aparente deste comportamento é uma inerente falta de patriotismo.  Somos extremamente patrióticos durante a Copa do Mundo, desfilamos com a Bandeira nacional a tira-colo, nos carros, nas casas, nos prédios de apartamentos e de escritórios, cantamos o Hino Nacional no início de cada jogo e dizemos ter orgulho de sermos Brasileiros. Mas encerrada nossa participação, tudo é recolhido, não se vê mais a bandeira nos capôs dos carros e não mais cantamos nosso magnífico Hino.

O eleitor mediano é assim. Não está preocupado com o País. Seu voto está a disposição para ser rifado e leiloado. "Quem dá mais?" São os dedos sujos. No país da lei da Ficha Limpa, precisamos ainda limpar nossos dedos, antes de digitarmos nossos votos em nossas modernas urnas eletrônicas.

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