terça-feira, 31 de agosto de 2010

O poder do voto

Em um país onde a grande maioria da população não é politizada é importante que se esclareça o que significa o ato de votar. Em primeiro lugar devo deixar claro um posicionamento. O voto obrigatório ainda é necessário, pois dada a grande repulsa do cidadão comum com a situação política no país, acabamos por não acreditar que um voto possa mudar algo.

Votar faz toda a diferença sim. Através do voto podemos referendar ou não os atos do executivo e do legislativo, contudo duas coisas são importantes para que o voto tenha poder efetivo. Primeiro a consciência do eleitor quanto em quem ele está votando e porque está votando. Em segundo, decorrido o exercício do mandato, analisar se o eleito fez jus ao voto que recebeu (cumprimento do que foi proposto durante a eleição, a moral do indivíduo, as ações tomadas e os posicionamentos assumidos). Assim o eleitor pode, com toda a segurança, votar apenas em candidatos que sejam efetivamente "ficha-limpa".
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Em último caso o voto pode ainda ser branco ou nulo. A urna eletrônica dispõe de um botão para aqueles que desejam votar em branco, mas no caso de se desejar anular o voto, o eleitor deverá digitar um número que não conste dentre os candidatos (00000 por exemplo) e confirmar. E qual a diferença? Na prática nenhuma, pois ambos serão desconsiderados do cômputo final pela Justiça Eleitoral. Este votos não são contabilizados e portanto farão diferença na eleição ou não de um candidato ou na validade do processo eleitoral.

O voto em branco pode ser considerado como a escolha daquele que não sabe em quem votar, enquanto o voto nulo pode ser considerado como um protesto contra o sistema político-eleitoral ou contra os postulantes aos cargos eletivos, contudo não influenciam e nem têm o poder de anular uma eleição, como alguns acreditam. Por outro lado, no caso da eleição dos cargos majoritários (Presidente, Governador e Prefeito), um grande número de votos nulos pode ser visto como falta de respaldo popular ao governo. Não que isso fará muita diferença para o eleito, ainda que este tenha apenas uma pequena maioria dentre um percentual mínimo de votos válidos.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Corrida Presidencial!

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Ildenicio Vieira dos Reis
http://historiaseoutrasestorias.blogspot.com/

História das Américas

Veja um exemplo do que não aprendemos na escola sobre história pré-colombiana:

A Paz de Paris foi um acordo, assinado em 1793, entre Espanha e Inglaterra, no qual o território da Louisiana, hoje no estado do Missouri (EUA), ficava sob controle espanhol. Poucos anos depois, um grupo militar inglês de levantamento de território, estava na região, quando fizeram uma curiosa descoberta. Vários de seus membros falantes de galês descobriram que podiam compreender os membros da tribo mandan, pois estes pareciam falar uma língua em que metade das palavras era galesa. Os índios tinham compleição clara e muitos tinham olhos cinzentos ou azuis, e as mulheres eram, de acordo com o comandante britânico, "extremamente belas". O comandante supunha que os mandans fossem descendentes de uma expedição histórica liderada pelo príncipe Madoc de Gales, que havia navegado para o Ocidente em 1170 a fim de fundar um reino nas ilhas do outro lado do mar e do qual nada mais se soubera desde então. Quando o incidente foi divulgado e as autoridades inglesas exibiram um vivo interesse nos mandans supostamente "galeses", os oficiais espanhóis começaram a temer que a Grã-Bretanha reivindicasse a região por já ser habitada por gente de sangue racial galês. As autoridades espanholas então custeraram uma segunda expedição do oficial que tinha relatado a descoberta, de modo a que pudesse reavaliar sua descoberta, o que ele fez. Ao retornar, relatou que sua primeira conclusão sobre os índios galeses havia sido equivocada e então deu baixa de seu posto no Exército britânico e aceitou outro, extremamente lucrativo, na alfândega e administração de impostos dos espanhóis em Nova Orleans. A tribo mandan foi posteriormente dizimada por doenças e os que restaram fundiram-se aos sioux do Estado de Dakota do Norte, onde os sobreviventes continuaram a empregar palavras galesas e a preservar determinadas tradições da mesma origem até desaparecerem.

No verão de 1898, o colono Olof Ohman, no estado americano de Minesota, ao extrair uma árvore de seu quintal, encontrou uma estranha laje com inscrições desconhecidas e medindo 79 x 41 x 15cm. Eis a tradução obtida pelo professor O. J. Breda:

"(Nós somos) 8 godos [suecos] e 22 noruegueses em (uma) viagem de exploração de Vinland através do Oeste. Tínhamos acampado junto de (um lago com) dois skerries [ilhas rochosas] a um dia de jornada para o norte a partir desta pedra. Andamos (por fora) e pescamos um dia. Depois de voltarmos ao acampamento encontramos 10 (dos nossos), AV(e) M (aria) salvai (nos) do mal. Dez do (nosso grupo) (estão) perto do mar olhando por nossos navios [ou navio] a 14 dias de viagem desta ilha. Ano 1362."

Por muito tempo criticada como uma fraude, teve sua credibilidade cada vez mais aceita, em virtude de inúmeras descobertas que vieram apoiar sua autenticidade. Uma das mais interessantes foi a descoberta de que, de fato, houve uma expedição, ordenada pelo rei Magno da Noruega (conforme documento assinado por ele em 03.11.1354), comandada pelo explorador Paul Knutson, cujo objetivo era socorrer a colônia norueguesa de Vesterbygd, fundada quase 400 anos antes, que desaparecera da costa ocidental da Groenlândia.

Paul Knutson, não encontrando seus conterrâneos na Groenlândia, teria adentrado pela baía de Hudson até chegar na região onde deixou a pedra. As informações na inscrição permitiram localizar o lago com dois skerries que ele menciona, como sendo o lago Cormorant. Em suas margens acham-se penedos do período glaciário, em 3 dos quais descobriu-se orifícios triangulares abertos pela mão do homem. Trata-se de um expediente comum entre os noruegueses medievais, para atracar navios nos fiordes. Tal fato constituiria mais uma prova de que a expedição de Knutson passou por ali.
O que aconteceu com esses homens? Acredita-se que, muito provavelmente, foram todos massacrados pelos indígenas hostis que habitavam a região.

Aqui no Brasil, mais mistérios...

No sertão paraibano uma lasca de pedra inscrita em fenício foi encontrada numa fazenda paraibana, em 1872, que descrevia uma expedição de 10 navios de Sidon, na Fenícia, a qual havia partido de Ezion-Geber (próximo à atual Elath, Israel), para uma viagem em torno da África. Os navios estiveram no mar durante dois anos e, de toda a expedição, somente 7 homens e 3 mulheres sobreviveram. Um trecho dizia em tom melancólico:
"Somos de Sidon (...) o comércio nos lançou sobre estas praias longínquas, uma terra de montanhas."
A mensagem continuava, invocando o auxílio dos deuses.

A pedra da Paraíba, há muito atacada como falsificação, teve de aguardar quase 100 anos antes de ser relutantemente reconsiderada como legítima. Um dos motivos pelos quais a pedra foi antes considerada uma fraude é que nela se encontraram certas grafias e construções fenícias que só foram verificadas em outras fontes na segunda metade do século XX.

Bem mais ao sul, entre São Conrado e Barra da Tijuca uma grande montanha de pedra, com 842 metros de altitude, surge das águas do oceano Atlântico. Trata-se de um gigantesco monumento natural de gnaisse, com topo de granito, pertencente ao Parque Nacional da Tijuca. Sua parte superior tem a forma de uma gávea, muito comum nas antigas caravelas. Daí o nome, dado pelos portugueses: "Pedra da Gávea". Um observador mais atento notará que esta parte superior da pedra, vista do Leblon, se assemelha a um sarcófago egípcio.

Além da face mais conhecida, voltada para o norte, há uma outra, inacabada, voltada para o sudeste. Por que não foi concluída? A semelhança entre ambas é algo de notável.

Há muitas inscrições que não poderiam ter sido feitas pela natureza; alguns sinais da Pedra da Gávea chamaram a atenção do Imperador D. Pedro I, embora existam documentos da época do descobrimento que já faziam referência a estes sinais.

Em 1963 o arqueólogo e professor Bernardo A. Silva traduziu as inscrições:



LAABHTEJ BAR RIZDAB NAISINEOF RUZT

Lidas de trás para a frente:

TZUR FOENISIAN BADZIR RAB JETHBAAL, cuja tradução seria:

Tyro Phoenicia, Badezir primogênito de Jethbaal

Em 856 a.C. Badezir (outra grafia do rei Baalazar II, que reinou em Tyro entre 863 e 829 a.C.) assumiu o lugar de seu pai Jethbaal I (ou Esh-Baal I, 896-863 a.C.), no trono real de Tyro.
Fenícios, aparentemente, estiveram em vários locais da América; há outras evidências, por exemplo, nos EUA; em 1680, o americanista francês Antonio Court de Gebelin estudou as inscrições da pedra de Dighton, no estado de Massachusetts e chegou à conclusão de que eram de procedência fenícia.

Por Marcelo Valdi Régis.

Obeliscos lunares

Em mais um capítulo sobre os mistérios da natureza, encontramos um interessante fato, sugestivo da presença extraterrestre no espaço. Trata-se das chamadas 'Torres de Blair'.
 
A sonda aí ao lado, chamada Lunar Orbiter 2 foi lançada pelos EUA no dia 6/11/1966; foi a segunda de uma série de 5 sondas idênticas, cuja finalidade principal era efetuar ampla cartografia do nosso satélite, para facilitar a busca dos sítios ideais de pouso das futuras missões Apollo (que pousariam na Lua a partir de 1969). Pesava 385,6 Kg e sua missão durou 339 dias, ao fim dos quais chocou-se contra a superfície lunar em 11/10/1967. Realizou 2.346 órbitas, num ângulo de 11º, com distância mínima de 52 km e máxima de 1.850 km. Retornou um total de 609 fotografias de alta resolução e 208 de média resolução.

No dia 20/11/1966, ela transmitiu a foto de nº LO2-61H3, tirada a 47 km de altitude, quando sobrevoava a borda ocidental do Mar da Tranquilidade (coordenadas 15,5º L e 5,1º N).


                
A foto acima, mostra uma série de 8 estruturas alongadas, semelhantes a obeliscos, numeradas para melhor visualização. A maior das estruturas (nº 5) mostra uma sombra com 110 m de comprimento; como o Sol encontrava-se a 10,9053º sobre o horizonte, um simples cálculo (comprimento da sombra multiplicado pela tangente do ângulo solar) permite deduzir uma altura de 21,1 m para o obelisco. Há uma incerteza com relação à altura, pela incerteza com relação, principalmente, ao correto comprimento das sombras. Deve-se levar em conta as irregularidades do relevo, bem como a curvatura da superfície lunar. Passaram a ser conhecidas como "Torres de Blair", por causa da profunda pesquisa realizada pelo especialista do Instituto de Biotecnologia da Boeing, William Blair. São artificiais tais estruturas? 


A natureza não é pródiga a ponto de erigir obeliscos! Não se conhece nenhum fenômeno geológico, vulcânico ou não, capaz de tal proeza. Seriam restos deixados por alguma humanidade ou colonos temporários que há muito deixaram a Lua?
  

Que cada um tire sua conclusões. Apenas ressalto que essas "Torres de Blair" constituem apenas uma das muitas estruturas estranhas fotografas por sondas americanas e russas, bem como pelas missões tripuladas do Programa Apollo. Existem outros obeliscos em outros locais, pontes, pirâmides, aparentes ruínas, sem falar em marcas no solo deixadas por veículos não humanos, etc., etc. Certamente não estamos sozinhos neste imenso Universo.


Por Marcelo  Valdi Regis.

Superlente gravitacional para estudar energia escura

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O assunto é cabeludo, mas a imagem vale (literalmente) mais que mil galáxias. O superaglomerado de galáxias Abell 1689, a imagem desta semana, está sendo usado por astrônomos como uma enorme lente gravitacional para ajudar a resolver o enigma da chamada "enegia escura", que estaria acelerando a expansão do universo, contrabalançando os efeitos da gravidade. Embora ainda não saibam exatamente a natureza desta misteriosa energia, com base em seus efeitos os cientistas acreditam que ela responda por cerca de 72% da massa do universo, enquanto outra parcela enorme, de 24%, seria formada pela chamada "matéria escura". Como Einstein demonstrou em sua famosa equação E = MC2, matéria e energia são intercambiáveis. Com a ajuda do telescópio espacial Hubble, os pesquisadores esperam obter mais pistas sobre a natureza desta energia. Ainda de acordo com as teorias de Einstein, a gravidade afeta a textura do espaço-tempo, distorcendo-o e fazendo com que funcione como uma lente de aumento que amplia a imagem de galáxias distantes quando ela passa pelo superaglomerado. Nesta imagem do Hubble, isto é observável nas galáxias na borda da área roxa, acrescentada para indicar a ação da energia escura na formação desta lente gravitacional.

Reproduzido de http://oglobo.globo.com/blogs/sociencia/

Freira Corintiana

Uma freira faz sinal para um táxi parar. Ela entra e o taxista não
pára de olhar  para ela:

- Por que você me olha assim?

Ele explica:

- Tenho uma coisa para lhe pedir, mas não quero que fique ofendida...

Ela responde:

- Meu filho, sou freira há muito tempo e já vi e ouvi de tudo. Com
certeza não há nada que você possa me dizer ou pedir que eu ache
ofensivo.

- Sabe, é que eu sempre tive na cabeça uma fantasia de ser beijado na
boca por uma freira...

A freira:

- Bem, vamos ver o que é que eu posso fazer por você: primeiro, você
tem que ser solteiro, corinthiano e também católico.

O taxista fica entusiasmado:

- Sim, sou solteiro, corinthiano desde criancinha e até sou católico também!

A freira olha pela janela do táxi e diz:

- Então, pare o carro ali na próxima travessa.

O carro para na travessa e a freira satisfaz a velha fantasia do
taxista com um belo beijo na boca daqueles de cinema .

Mas, quando continuam para o destino, o taxista começa a chorar :

- Meu filho - diz a freira - Porque é que está chorando?

- Perdoe-me Irmã, mas confesso que menti: sou casado, palmeirense e
não sou catolico.

A freira conforta-o:

- Deixa pra lá. Estou a caminho de uma festa a fantasia , sou
travesti, me chamo Alfredo e torço pro São Paulo!

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Ildenicio Vieira dos Reis
http://historiaseoutrasestorias.blogspot.com/

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O Universo

Peço lincença aos especialistas para falar de um tema que me apaixona desde a primeira vez em que vi em uma velha TV Telefunken (em preto e branco) uma episódio de Perdidos no Espaço. Acho que essa é a lembrança mais remota que tenho sobre assistir a um filme, desenho ou série sobre o homem descobrindo a vastidão do espaço. Desde então tudo que gravita em torno deste tema tem sido objeto de minha atenção, não apenas quadrinhos, desenhos e filmes de hollywood, mas também livros e artigos científicos. Não quero enganar ninguém dizendo que entendi tudo, li duas vezes "Uma breve história do Tempo" (HAWKING, Stephen, Editora Rocco, 1988.) e um dia ainda vou ler a terceira vez...

Mas voltando ao foco deste post, pretendo abordar aqui uma questão que embora intrigante não deve ser objeto de alarde, o fim do universo. Há três teorias sobre o fim do universo a saber:

Big Crunch:  O universo, atualmente em expansão, irá crescer até determinado ponto e então irá retroceder e encolher até seu tamanho original (um ponto infinitesimal contendo toda matéria e energia existentes) que dará início a um novo Big Bang e um novo universo. De acordo com essa teoria o universo é ciclico e infinito.

Big Freeze: O universo continuará em expansão até que todas as estrelas se afastem uma da outra e queimem todo seu combustível, no fim não haverá novas estrelas e o universo esfriará lentamente se qualquer condição de sustentar vida.


Big Rip: A aceleração da expansão irá crescer gradativamente até um ponto de ruptura em que os próprios átomos da matéria perderão a coesão e se desagregarão. Literalmente rasgando o espaço e o tempo.


Talvez seja por romantismo, ou pelo desejo de que haja uma continuidade para a existência e uma chance de recomeço, mas prefiro a primeira. Entretanto outros motivos me fazem acreditar que esse é o futuro do cosmo. Primeiro há dois princípios fundamentais em Física que dizem que a energia não pode ser destruída, apenas transformada em outra forma de energia (lembram-se de Lavoisier? Nada se cria, nada se perde, tudo se transfoma),  e que massa e energia são a mesma coisa (E=mc²).

Isto posto, vamos a outro componente básico em minha teoria - Os buracos negros. Buracos negros são o resultado do colapso de estrelas supermassivas que sucumbem à própria gravidade. Os cientistas já confirmaram a existência de um buraco negro no centro de nossa galáxia, assim como nas demais. É possível ainda que eles sejam os responsáveis pela coesão das galáxias.

Tanto a teoria do Big Freeze quanto a do Big Rip se baseiam no fato de que a força motriz por trás da expansão é a misteriosa energia escura. A energia escura, já chamada por Einstein de constante cosmológica, ainda não foi inteiramente compreendida e nem mesmo pôde ser detectada, mas sentimos seus efeitos. A energia escura se opõe a força gravitacional, enquanto esta tenta a todo custo agrupar a matéria universal, a segunda a repele e impulsiona o crescimento do prórprio universo. A grande questão é: Quem vencerá o duelo?

Cerveja é cerveja, cura até macumba.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Em defesa de Brasília II

A cada quatro anos há (ou deveria haver) uma renovação de uma ínfima parcela dos moradores da capital. Ínfima, aliás chega a ser eufemismo, pois em universo de mais de 2,6 milhões de habitantes essa parcela mal alcança a expressiva marca de 0,0003 %.

Certas figuras, nem sempre bem quistas, mas que por aqui aportam despachadas pelos seus correligionários e eleitores que voluntariamente os enviam para exílios de quatro ou oito anos no quase árido Planalto Central, fazem da cidade um misto de circo sem lona e palco de horrores.

Não culpem Brasília se toda a vez que aparecemos no noticiário é para mostrar algum escândalo na Praça dos Três Poderes, afinal só colocamos lá 08 deputados e 03 senadores, 1,56% e 3,70% do total de respeitáveis cidadãos que o País indica para o Legislativo, além disso somos apenas 1,35% do total de eleitores Brasileiros, percentual insignificante para influenciar a corrida presidencial.

Muitas vezes presenciei ataques à cidade e generalizações contra o DF. É só eu abrir a boca para dizer que sou de Brasília e aparece algum engraçadinho para falar que o "povo" de Brasília é isso ou aquilo, que aqui só tem marajá ou ladrão. Sempre defendi e defenderei que aqui também tem muita gente trabalhadora, (modéstia à parte, sou um desses), muitos dos quais sobrevivem com um minguado salário mínimo e que se a política brasileira é corrupta, inepta e vergonhosa, todo o país tem sua parcela de culpa, proporcional à população.

Se alguém quiser se livrar de algum político de sua terra, por favor, mandem-no para qualquer lugar, menos para Brasília.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Em defesa de Brasília I

Os ecologicamente e os politicamente corretos que me perdoem pelo uso indevido da palavra, mas a fauna humana de Brasília não poderia ser mais diversificada. Aqui encontramos espécimes de não apenas todo o Brasil, mas de todo o mundo também. A mistura de sotaques, culturas e origens lhe cai com uma luva, afinal a Capital do País precisa representar todo o povo Brasileiro, e isso não se aplica apenas ao plano político, por isso digo que Brasília tem a maior biodiversidade humana do país.

Uma das peculariedades de Brasília é o fato de não possuir exatamente uma cultura própria. A cultura candanga é na verdade o conjunto de todas as influências recebidas em seus 50 anos. Isso reflete não apenas o movimento migratório iniciado com a construção de Brasília, mas principalmente o caldeirão cultural formado por aqueles que aqui se estabeleceram definitivamente somados aos que estão só de passagem, seja por alguns dias ou alguns meses e até mesmo uns poucos anos.

A transferência da Capital do país para o Planalto Central obrigou, como não poderia deixar de ser, todas as representações diplomáticas a se mudarem para cá, além é claro de escritórios de organismos multinacionais. Junto aos imigrantes nordestinos, aos caboclos, gaúchos, mineiros e cariocas foram incorporadas em Brasília um sem número de outras influências dos quatro cantos do mundo. Só que a mistura dessa variedade tão grande de origens não resultou em uma sopa homogênea e pasteurizada. O resultado foi um quebra-cabeças que ainda precisa ser montado, mas isso não significa que Brasília e os Brasilienses não tenham identidade, significa tão somente que damos valor ao passado que trazemos em nosso sangue e que temos orgulho de sermos a cara do Brasil. A cultura brasiliense emerge desse mar de influências a cada dia.

O Brasiliense, contudo, é mais que a simples soma das infinitas variações regionais que o Brasil apresenta. Aqui se come pão de queijo no café da manhã, não dispensa o arroz com feijão, janta um sushi (para manter a forma), na sexta tem feijoada e no final de semana churrasco. Em festa que se preze o Rock é indispensável, mas todo mundo cai na dança ao tocar um forró e os apaixonados curtem sua dor de cotovelo ao som de duplas sertanejas goianas.

O Brasil está aqui, todas as cores e sabores. No Cruzeiro se cultiva a mais fina tradição do Samba, em Planaltina a festa do Divino. Se tem jogo do Flamengo o estádio lota, se for do Inter, do Cruzeiro, do São Paulo ou ainda dos rivais também. Ao final do Brasileirão tem sempre um monte de candango com a bandeira na mão gritando "é campeão". Essa miscigenação, em grau menor reflexo daquela ocorrida quando da formação do próprio País, já rendeu muitos frutos, mas que ainda estão amadurecendo. A primeira geração de brasilienses nativos ainda sofre em grande medida os impactos dessas muilticuturalidade, ainda tem muita informação para absorver e processar. Essa dinâmica ainda levará tempo para ser digerida. E quando houver finalmente chegado o tempo da degustação desse vinho, será então a hora de se reiventar novamente.

domingo, 15 de agosto de 2010

Serra e a maquiagem política

A tentativa de Serra de se apresentar como alguém simples e do povo é tão falso como se Lula tentasse fazer um discurso cheio de palavras rebuscadas ao estilo Fernando Henrique. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. A autenticidade de Lula ao interagir com o povo é natural, pois ali ele está no meio no qual ele surgiu e foi formado. Já as origens humildes de Serra, embora igualmente reais, não são nem de longe semelhantes.

Serra trilhou um caminho diferente, sempre lutando para se afastar de suas origens, o que não é nenhum demérito do ponto de vista de quem sempre procura melhorar, e nesse ponto se assemelha à história de Marina. O ponto em que as três biografias tomam rumos diferentes, é quando alcançam esse novo patamar. Lula e Marina sempre fizeram questão de se manterem fiéis à sua origem, enquanto Serra sempre buscou se afastar dela para mergulhar mais profundamente na nova classe a qual ascedera.

Ramsés II e a ameaça Hitita - Parte 2

Ramsés II e a ameaça Hitita

sábado, 14 de agosto de 2010

Os Assírios

Roriz vaiado no Gama (DF)

O candidado ao Governo do Distrito Federal, Joaquim Domingos Roriz, esteve agora há pouco no Gama, cidade-satélite de Brasília, para participar do evento "Deus é Gamado" promovido pela Igreja Católica local. Roriz, apesar de líder nas pesquisas, nunca conseguiu uma boa votação no Gama, reduto tradicionalmente petista.

Contrito, participou de toda a missa presidida pelo Padre Robison, pároco da Basílica de Trindade (GO), tradicional centro de romaria católica. Ao final, durante os agradecimentos, ao ter seu nome anunciado pelo Padre Robison, foi fortemente vaiado pelos fiéis que compareceram à Igreja Nossa Senhora da Imaculada Conceição.

Fato histórico de 14 agosto

1415 -    Ocorreu a Batalha de Aljubarrota.

1900 -    As embaixadas ocidentais em Pequim foram libertadas por uma força internacional.

1917 -    A China declarou guerra à Alemanha e à Áustria e o Papa Bento XV emitiu uma mensagem de Paz.

1919 -    Na Alemanha, a Constituição bávara foi revista.

1935 -    Nos Estados Unidos, o presidente Roosevelt assinou a Lei da Segurança Social.

1945 -
    O Japão rendeu-se incondicionalmente aos Exércitos Aliados, a Carta das Nações Unidas foi ratificada pela França e o General Pétain foi condenado à morte.

1958 -
    Alguns países da NATO reataram as relações comerciais com os países comunistas.

1970 -    A Iugoslávia reatou as relações diplomáticas com o Vaticano.

1973 -    Os Estados Unidos detinham o bombardeio ao Camboja, tornando oficial o fim de 12 anos de guerra na Indochina.

1974 -
    A Grécia abandonou a NATO.

1974 -
    O general Ernesto Geisel é escolhido presidente da República por eleição indireta.

1990 -    O programa de televisão Os Simpsons estréia no canal Fox nos Estados Unidos.

1998 -
    Em Macau, o Procurador do Ministério Público português foi alvo de um atentado.

2000 -    Cirurgiões do hospital Edouard-Herriot fazem, pela primeia vez, um duplo transplante de antebraços em um paciente que os havia perdido.

A primeira guerra da humanidade

A primeira guerra de que se tem registro histórico ocorreu por volta de 2525 a.C. no que foi o berço da civilização, a Suméria, no sudeste do atual território iraquiano, mais especificamente na cidade-estado de Lagash, contra a cidade vizinha de Umma. “Provavelmente, as mais antigas batalhas sobre as quais temos evidências claras são relacionadas ao estado de Lagash", diz o historiador John Baines, da Universidade de Oxford, na Inglaterra.

Mapa da antiga Babilónia


No século 19 foi encontra nas ruínas da recém-descoberta Lagash uma placa de pedra conhecida como "Estela dos Abutres". Era apenas um fragmento de um monumento muito maior, erguido em homenagem ao líder Eannatum. Na estela é possível observar relevos mostrando várias cenas da guerra Umma. O nome da estela deriva do fato de a mesma possuir entalhes que mostram os soldados inimigos mortos sendo devorados por abutres. Hoje, essa relíquia histórica está abrigada no Museu do Louvre, em Paris.

Assim como assinalei no post “Guerra e Paz” a razão deste conflito foi o mesmo de sempre, rivalidade pelo domínio econômico (a região possuía reservas de madeira, um recurso escasso e valioso, além de cobre e estanho, minérios necessários para produzir o bronze usado em armas e ferramentas agrícolas). Também era importante a questão, territorial e política, uma vez que a Suméria uma das regiões mais populosas naquele período e havia uma intensa disputa por terras aráveis ou acesso à água.

A humanidade dava seus primeiros passos em direção a uma sociedade hierarquizada e urbana, com exércitos treinados e profissionais, ao invés de caçadores. Também era o início de uma dinastia real e do estabelecimento de uma casta sacerdotal que viria se tornar o balizador das relações entre os súditos e os governantes.

Estela dos Abutres - comemora a vitória militar da cidade
de Lagash sobre a cidade de Umma, Museu do Louvre.

Algumas características deste conflito, surpreendentes para o período, são:

  • A utilização de carros de combate puxados por animais de carga, provavelmente usados para atropelar o inimigo e provocar o pânico e a fuga das tropas oponentes.
  • Há indícios de tropas organizadas, com uniformes de batalha e armamento relativamente padronizado.
  • Algum armamentos utilizados derivavam claramente de ferramentas agrícolas da época, como a foice de batalha, cuja lâmina era afiada em ambos os lados.
  • Foi provavelmente a primeira batalha em que foram utilizadas técnicas de combate em equipe e estratégia militar.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A emoção sempre vence

A candidata Dilma Roussef disse na entrevista que deu ao Jornal Nacional, na TV Globo, que o PT, quando chegou ao governo, em 2002, teve que enfrentar uma inflação incontrolável.

A candidata não estava apenas dando curso a uma informação falsa. Ela estava mexendo com o cérebro político do eleitor, e inserindo nele um dado que, embora seja facilmente verificável e contestável,pode se instalar no inconsciente do eleitor e produzir efeitos emocionais difíceis de ser eliminados num debate racional.
A supremacia da emoção sobre a razão é a principal conclusão do livro “O Cérebro Político”, de Drew Westen (editora Unianchieta, 389 páginas), que por ironia é apresentado pelo senador Aloizio Mercadante e prefaciado pelo deputado federal José Eduardo Cardozo, ambos do PT.
O autor é um psicólogo clínico e professor de psicologia e psiquiatria da Emory University, e o livro é baseado em experiências neurológicas feitas por ressonância magnética em voluntários , simpatizantes ou militantes dos partidos Democrata e Republicano, cujos circuitos neurais foram submetidos a cargas diversas de informação política, em circunstâncias diversas, durante a campanha eleitoral de 2004.Drew trabalhou também como conselheiro de estratégia em várias campanhas do Partido Democrata.
O livro, de leitura fascinante, demonstra,com toda clareza e de maneira indiscutível e muito bem documentada, que “ o cérebro político é um cérebro emocional.Não é uma máquina de calcular desapaixonada, que pesquisa fatos corretos, números e políticas objetivamente a fim de tomar uma decisão sensata”. E isso não acontece apenas com o eleitor médio, razoavelmente desinformado, mas também com pessoas intelectualmente mais sofisticadas, mais esclarecidas, e muito conscientes das diferenças de princípios,valores e estratégias que caracterizam os partidos.
O estudo mostrou também que o simpatizante partidário mais engajado tende a trabalhar a informação que lhe é desfavorável de forma a transformá-la e usá-la como se fosse um dado positivo, ou pelo menos de forma a torná-la neutra ou inofensiva. “Quando confrontada com uma informação política potencialmente perturbadora,uma rede de neurônios torna-se ativa, produzindo sofrimento.Se este sofrimento é consciente,inconsciente, ou uma combinação dos dois,não sabemos.O cérebro registra o conflito entre os dados e o desejo,e começa a buscar formas de evitar a emoção desagradável.Sabemos que o cérebro obtém grande sucesso nesse esforço,visto que a maioria dos eleitores convictos de um dos dois partidos negou ter percebido qualquer conflito entre palavras e ações de seus candidatos”.Por isso,o cérebro dos eleitores engajados tende a absorver e diluir declarações comprovadamente falsas de seus candidatos sem nenhum conflito.
O livro lista dezenas de exemplos concretos de fatos ocorridos em campanhas eleitorais norte-americanas e conclui, com declarado engajamento, que o Partido Democrata perdeu algumas eleições que pareciam ganhas por ter preferido, em muitos episódios, impor o seu intelectualismo racional aos argumentos de campanha, menosprezando o fator emocional.Nos exemplos citados pelo autor, a emoção, que segundo ele o Partido Republicano costuma manejar melhor, sempre se impôs à razão.
Se há eleitores previamente decididos,emocionalmente, a se deixar convencer que a inflação foi debelada no governo Lula, a verdade factual desaparecerá nos seus circuitos neurais e o que é falso se tornará verdadeiro.

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez.. E.mail: svaia@uol.com.br 

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Star Trek - Filosofia e Ciência

Para fãs de ficção científica, incluindo eu, Star Trek, ou Jornada nas Estrelas, é muito mais do que uma simples série de TV que aborda um futuro fantástico. A primeira virtude de Jornada está na representação de um futuro onde a humanidade se apresenta como um único povo, unidos e sem quaisquer traços residuais de racismo ou preconceito ou mesmo divisões político-ideológicas. Não por acaso a primeira tripulação da nave Enterprise tinha dentre seus componentes um japonês, um russo, um alienígena e uma mulher, que embora fossem papéis menores e subalternos, eram fatos incríveis para a época.
No caso do Tenente Hikaru Sulo, cujo ator George Takei, era descendente de japoneses, a estranheza ainda decorria dos rescaldos da 2ª Guerra Mundial. Apesar do tempo decorrido os americanos não haviam esquecido Pearl Habor e um piloto japonês ainda remetia aos famigerados kamikazes e seu rasantes suicidas. Sua história inclusive está muito ligada a esses fatos, pois sua família, esteve entre os muitos imigrantes japoneses detidos no campo de concentração de Tule Lake War Relocation.

O Alferes Pavel Chekov, interpretado pelo jovem Walter Koening, era o improvável navegador de carregado sotaque russo. Embora não destilasse qualquer propaganda comunista na série, sua mera presença já causava assombro. Os russos eram o grande inimigo dos EUA e do “mundo livre” e em cada oportunidade Chekov disparava um elogio ou atribuía alguma invenção importante aos russos. Eram tempos perigosos em  que ser acusado de simpatizante dos comunistas era algo muito sério.

Já para o ator Leonard Nimoy, seu personagem era alvo de outro tipo de preconceito. O comandante Spock, era um estranho alienígena de orelhas pontudas que vinha de um planeta estranho chamado vulcano, que muitos associaram ao inferno, fazendo de Spock obviamente um (o) demônio. Sua ausência quase total de emoções acentuava ainda mais as desconfianças daqueles que enxergavam em Star Trek um programa com influências perniciosas e que deveria ser alvo de severa censura, senão cancelado.

A tripulação original da NCC 1701 - Enterprise

A Tenente Uhura,interpretada por Nichelle Nichols, talvez seja o caso mais emblemáticos. Além de mulher, que nos padrões vigentes da época (a série estreou em 1966) ainda estava destinada a ser tão somente a mãe, esposa e dona de casa, era negra, um verdadeiro acinte. Uhura escandalizou muitas socialites americanas ao se apresentar com um figurino mínimo exibindo longas e torneadas pernas na ponte de comando da Enterprise e protagonizando o primeiro beijo interracial da TV americana com William Shatner, vulgo Capitão Kirk, no epsódio Plato's Stepchildren (1968), quando os EUA ainda viviam intensos conflitos raciais cujo ápice foi o assassinato de Martin Luther King naquele mesmo ano.

Será que Gene Roddenberry ao criar este conjunto tão heterogêneo poderia imaginar o alcance que suas idéias teriam? Mais do que ficção científica o futuro desenhado por ele traz elementos que ultrapassam a fantasia e beiram o impossível. Um mundo sem preconceitos e linhas em mapas, onde igualdade etnica, sexual e cultural não é apenas uma idéia abstrata mas o dia-a-dia do ser humano. Somos capazes disso? Ou as outras visões de um futuro apocalípitico e  degradante como Blade Runner ou ainda Planeta dos Macacos se mostrarão mais factíveis a longo prazo?

Ao olharmos para trás a História demonstra que ao passo que o homem evolui tecnológicamente, pouco ou nada se avançou em questões éticas e morais. Ainda somos movidos pelas mesma paixões de nossos antepassados. A ânsia de poder e riqueza que ergueu e derrubou impérios, a vaidade de homens que lideravam as massas em diferentes momentos e lugares, o ódio irrascível inflamado pelas religiões, o medo do desconhecido que enseja a necessidade de nos protegermos a ponto de acreditarmos que o massacre é apenas uma defesa. Ainda hoje vemos esses fantasmas assolarem a humanidade e por mais que sonhemos com um futuro onde esses fatos estejam restritos aos registros históricos, eles ainda são uma mera utopia.

Entrevistas do JN

Depois de assistir às entrevistas do Jornal Nacional com Dilma, Marina e Serra, ficou patente a constatação de que o último foi privilegiado pelos entrevistadores. As duas primeiras foram sistematicamente colocadas contra a parede, inclusive com perguntas bem capciosas que visavam claramente desestabilizá-las. Dilma não conseguiu ou não soube se impor, já Marina teve maior presença de espírito e se manteve firme. Ponto para ela que precisa aproveitar ao máximo cada segundo de exposição que conseguir.

Já serra teve um verdadeiro passeio durante seus doze minutos de bate-papo com William Bonner e Fátima Bernardes, não foi exposto a nenhum tipo de constrangimento ou pegadinha. Perguntas inócuas, com respostas pré-formatadas fáceis. Talvez a mais apimentada foi quando Bonner questionou sua aliança com o PTB que esteve envolvido no caso do mesalão, mas ao levantar essa bola os jornalistas pareciam mais querer requentar notícia velha, que aliás, depõe muito mais contra o PT.

Assim percebe-se claramente que houve intenção em propiciar a Serra uma vantagem que ele soube aproveitar relativamente bem.

A Última Nau - Fernando Pessoa

Levando a bordo El-Rei Dom Sebastião,
E erguendo, como um nome, alto, o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago
Erma, e entre choros de ancia e de presago
Mystério.

Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Volverá da sorte incerta
Que teve?
Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro
E breve.

Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minh'alma atlântica se exalta
E entorna,
E em mim, num mar que não tem tempo ou 'spaço,
Vejo entre a cerração teu vulto baço
Que torna.

ultimanau.JPG
Óleo de Carlos Alberto Santos

"A última Nau" é o 11º poema que compõe a 2ª parte (Mar Portuguez) do livro "Mensagem" do Poeta Português Fernando Pessoa. Este poema constitui uma espécie de fulcro de Mensagem. Inicia-se em 1578 com a partida de D.Sebastião, entre sinais de mau presságio, para Marrocos, onde lutaria na batalha de Alcácer-Quibir. A nau com a sua bandeira içada nunca mais voltou e o embarque de D.Sebastião torna-se místico pelo seu desaparecimento material e comparável ao do Rei Artur, após a batalha de Camlan, para a Ilha Encantada de Avalon ("a que ilha indescoberta aportou?"). Com o desaparecimento de D.Sebastião morre, aparentemente, o sonho de um império universal sob o seu cetro. Neste momento Fernando Pessoa, que até agora se tinha referido ao passado de Portugal, diz, num aparte, que o futuro é por vezes intuível aos homens e passa imediatamente a contar a sua visão do porvir. A Última Nau volta e trás um vulto (O Desejado) que Pessoa assemelha a D.Sebastião, que vem retomar a caminhada para o império universal- já não material, mas espiritual- que será o Quinto Império sonhado pelo Padre António Vieira.

Este poema também foi adaptado por Zé Ramalho que o musicou, quase sem nenhuma alteração. Outra curiosidade diz respeito a expressão "a ver navios" que se refere justamente ao fato de as pessoas irem ao porto de Lisboa esperando ver no horizonte o navio de D. Sebastião retornar e ali ficavam vendo as embarcações que chegavam, contudo o amado rei jamais retornou.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Guerra e Paz

Há 60 anos, Churchill sugeriu a criação de um exército comum para a Europa, que nunca veio a se concretizar. A OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte já existia a cerca de um ano. Amanhã completará 19 anos desde que o Congresso dos EUA aprovaram o início de uma ação militar contra o Iraque, em decorrência da invasão do Kwait.

Os animais lutam, mas não fazem guerra. O homem é o único primata que planeja o extermínio dentro de sua própria espécie e o executa entusiasticamente e em grandes dimensões. A guerra é uma de suas invenções mais importantes; a capacidade de estabelecer acordos de paz é provavelmente uma conquista posterior.
Hans Magnus Enzensberger, Guerra Civil

A guerra permeia toda a história da humanidade, desde Tróia até os mais recentes conflitos em Dafur ou no Afeganistão. Por mais que busquemos justificativas para esse comportamento o motivo delas sempre foi o mesmo - Poder - quer seja político, econômico ou religioso. 

Quando a guerra se inicia todos os recursos de uma nação são mobilizados para o conflito, nenhuma outra ação é empreendida pelo Estado a não ser aquelas visando o esforço de guerra. Isso significa que as necessidades de toda a sociedade passa a ser ignoradas em prol de um conflito que certamente não irá beneficiar a todos. Pelo contrário, em todas as guerras os resultados são sempre os mesmos, há apenas perdedores. Os poucos que lucram com estes conflitos são justamente aqueles que os tramaram nas sombras e sempre se mantém distantes da frente de batalha.
Não há o que comemorar no que diz respeito a estas datas, apenas ponderar os caminhos a seguir e imaginarmos se é possível a criação de um futuro sem exércitos e onde a guerra seja algo tão obsoleto e remoto quanto são hoje as flechas com pontas de sílex.

Fatos históricos de 11 agosto

1979 - Na Índia, uma barragem ruíu e provocou mais de quarenta mil mortos

1920 - A União Soviética e a Letónia assinaram o Tratado de Rija

1937 - O ditador iraquiano Bakr Sidqi foi assassinado

1941 - Churchill e Roosevelt assinaram a Carta do Atlântico

1950 - No Congresso de Estrasburgo, Churchill propôs a criação de um Exército Único Europeu

1952 - Hussein foi proclamado Rei da Jordânia
   
1955 - Na Indonésia, tomou posse um governo dominado por muçulmanos

1965 - Em Los Angeles registaram-se confrontos raciais
  
1966 - A Indonésia e a Malásia assinaram um acordo de cooperação

1970 - No Líbano, Suleiman Frangié assumiu as funções de Chefe de Estado

1975 - Nas Nações Unidas, os Estados Unidos vetaram a admissão dos dois Vietnames

1977 - Os Estados Unidos renunciaram aos seus direitos sobre o Canal do Panamá
 
1994 - Em Cuba, foram levantadas as restrições à emigração

O custo do ócio - Parte II

Hoje a sociedade arca com todos os custos decorrentes da manutenção dos presídios, desde a alimentação até as despesas médicas e de transporte , quando necessário, um exemplo emblemático é o caso do criminoso Fernandinho Beira Mar, que somente para custear o seu deslocamento para participar de uma audiência em que sequer seria ouvido foram gastos R$ 17 mil.

A sociedade já é obrigada a arcar uma elevada carga tributária, que alem do mais é mal distribuída. Assim o mínimo que podemos exigir de quem foi condenado é que contribua para o seu próprio sustento, coisa que qualquer cidadão livre é obrigado a fazer. Se nós que somos inocentes e livres temos o dever de nos sustentar por nós mesmos, porque um criminoso condenado pode ter a regalia de ser sustentado pelo Estado, ou melhor ainda, por nós contribuintes?

Se cada preso tivesse sua força de trabalho direcionada para alguns serviços públicos a economia gerada com a contratação de mão-de-obra poderia ser sensivelmente reduzida. Não se trata aqui de colocar presidiários para fazerem serviços degradantes ou desumanos, mas para desenvolverem atividades que possam contribuir para o seu desenvolvimento pessoal e futura reintegração à sociedade.

Para tanto, devemos também levar em consideração que a maioria esmagadora dos detentos hoje ou são analfabetos, analfabetos funcionais (mal escrevem o próprio nome) ou ainda semi-analfabetos. Dentre aqueles que possuem um grau mínimo de instrução ainda assim não possuem qualquer qualificação profissional. Apenas um pequeno percentual possuem o ensino médio completo e menos ainda possuem nível superior.

A educação é portanto um aspecto indissociável do processo de inclusão social e re-socialização, mas tendo 24 por dia de tempo disponível é plenamente aceitável estabelecermos rotinas de estudo e trabalho que se complementem. Assim um detento pode, durante oito horas de seu dia, exercer uma atividade qualquer. As possibilidades são quase infinitas. Após esse período o mesmo detento poderia então freqüentar um curso que lhe complementasse o que lhe falta para concluir uma graduação, ou ainda um curso técnico profissionalizante, algo em torno de mais quatro ou seis horas diárias de estudo. Não creio que isso possa ser considerado desumano por alguém, se for então a minha rotina e de milhares de Brasileiros honestos também é.

Como atividade produtiva poderiam ser desempenhadas desde atividades agrícolas com a manutenção de um cultivo que viesse a complementar a alimentação servida no próprio presídio, produção de artesanato regional, confecção, marcenaria e carpintaria, manutenção predial (hidráulica, elétrica, pintura etc) que poderia ser aplicada dentro da própria unidade prisional ou ainda em outros prédios públicos sob a supervisão de uma escolta apropriada, etc.

Os recursos oriundos destas atividades, ou a economia gerada a partir dela, serviriam para reduzir as despesas, melhorar a própria qualidade de vida dos detentos. Outra vantagem decorrente de um sistema assim seria a de propiciar um novo horizonte àqueles que verdadeiramente tendem a se tornar seres humanos melhores. Quiçá até pode tornar um presídio em uma fonte de recursos para o próprio Estado, fazendo assim com que, ao invés de serem uma carga para o cidadão passem a ser um elemento de transmutação da sociedade.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Por que persiste a Igreja-poder?

 

Por Leonardo Boff.

Vou abordar um tema incômodo mas incontornável: como pode a instituição-Igreja, como a descrevi num artigo anterior, com características autoritárias, absolutistas e excludentes se perpetuar na história? A ideologia dominante responde: "só porque é divina". Na verdade, este exercício de poder não tem nada de divino. Era o que Jesus exatamente não queria. Ele queria a hierodulia (sagrado serviço) e não a hierarquia (sagrado poder). Mas esta se impôs através dos tempos.

Instituições autoritárias possuem uma mesma lógica de autoreprodução. Não é diferente com a Igreja-instituição. Em primeiro lugar, ela se julga a única verdadeira e tira o título de "igreja" a todas as demais. Em seguida cria-se um rigoroso enquadramento: um pensamento único, uma única dogmática, um único catecismo, um único direito canônico, uma única forma de liturgia. Não se tolera a crítica nem a criatividade, vistas como negação ou denunciadas como criadoras de uma Igreja paralela ou de um outro magistério.

Em segundo lugar, se usa a violência simbólica do controle, da repressão e da punição, não raro à custa dos direitos humanos. Facilmente o questionador é marginalizado, nega-se-lhe o direito de pregar, de escrever e de atuar na comunidade. O então Card. Joseph Ratzinger, Presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, em seu mandato, puniu mais de cem teólogos. Nesta mesma lógica, pecados e crimes dos sacerdotes pedófilos ou outros delitos, como os financeiros, são mantidos ocultos para não prejudicar o bom nome da Igreja, sem o menor sentido de justiça para com as vítimas inocentes.

Em terceiro lugar, mitificam-se e quase idolatram-se as autoridades eclesiásticas principalmente o Papa que é o "doce Cristo na Terra". Penso eu lá com meus botões: que doce Cristo representava o Papa Sérgio (904), assassino de seus dois predecessores ou o Papa João XII (955), eleito com a idade de 20 anos, adúltero e morto pelo marido traido ou, pior, o Papa Bento IX (1033), eleito com 15 anos de idade, um dos mais criminosos e indignos da história do papado, chegando a vender a dignidade papal por 1000 liras de prata?

Em quarto lugar, canonizam-se figuras cujas virtudes se enquandram no sistema, como a obediência cega, a contínua exaltação das autoridades e o "sentir com a Igreja (hierarquia)", bem no estilo fascista segundo o qual "o chefe (o ducce, o Führer) sempre tem razão".

Em quinto lugar, há pessoas e cristãos com natureza autoritária, que acima de tudo apreciam a ordem, a lei e o princípio de autoridade em detrimento da lógica complexa da vida que tem surpresas e exige tolerância e adaptações. Estes secundam esse tipo de Igreja bem como regimes políticos autoritários e ditatoriais. Aliás, há uma estreita afinidade entre os regimes ditatoriais e a Igreja-poder como se viu com os ditadores Franco, Salazar, Mussolini, Pinochet e outros. Padres conservadores são facilmente feitos bispos e bispos fidelissimos a Roma são promovidos, fomentando a subserviência. Esse bloco histórico-social-religioso se cristalizou e garantiu a continuidade a este tipo de Igreja.

Em sexto lugar, a Igreja-poder sabe do valor dos ritos e símbolos pois reforçam identidades conservadoras, pouco zelando por seus conteúdos, contanto que sejam mantidos inalteráveis e estritamente observados.

Em razão desta rigidez dogmática e canônica, a Igreja-instiuição não é vivida como lar espiritual. Muitos emigram. Dizem sim ao cristianismo e não à Igreja-poder com a qual não se identificam. Dão-se conta das distorções feitas à herança de Jesus que pregou a liberdade e exaltou o amor incondicional.

Não obstante estas patologias, possuimos figuras como o Papa João XXIII, Dom Helder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Luiz Flávio Cappio e outros que não reproduzem o estilo autoritário, nem apresentam-se como autoridades eclesiásticas mas como pastores no meio do Povo de Deus. Apesar destas contradições, há um mérito que importa reconhecer: esse tipo autoritário de Igreja nunca deixou de nos legar os evangelhos, mesmo negando-os na prática, e assim permitindo-nos o acesso à mensagem revolucionária do Nazareno. Ela prega a libertação mas geralmente são outros que libertam.

Leonardo Boff é autor de Igreja: carisma e poder, Record 2009.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Maturar

Quando você envelhece, descobre que os amigos ranzinzas ficam mais ciumentos, prática sem cura, e você para de implicar com eles e se diverte.

Como para de implicar com o blefador, que continua o mesmo, com o pão-duro, que só piora, com o teimoso, que insiste mais em suas opiniões, mesmo se estiverem furadas. Descobre que o engraçado tem novas e mais sofisticadas tiradas, e que a risada dele continua estremecendo o baralho. Descobre que a ressaca do uísque é melhor do que a da pinga, que prosecco e champanhe são só para brindar, que o vinho tinto argentino melhora a cada safra. Descobre que a comida deve vir com pouco sal e a salada, com muito azeite. Descobre que tomate e maçã fazem bem e embutidos, mal. Que queijos magros são mais aconselháveis do que aquele brie ou emental. Descobre que em inauguração de restaurante não se come, e que em lançamento de livro o vinho branco é alemão.

Descobre que aquela mulher por quem você foi apaixonado continua apaixonante, e o deixa sem graça toda a vez que olhares se cruzam. E mesmo que ela tenha se casado com seu inimigo, com quem teve quatro filhos, continua irresistível, e você fica sem graça ao lado dela como se ainda tivesse 16 anos, e ela sabe disso, e você não sabe por que enrolou tantas décadas em por que você não a seqüestrou logo quando se conheceram na escola.

Quando você envelhece, descobre que todas as suas ex merecem carinho, um presente, um almoço, ou até um simples conselho, um telefonema eventual, um e-mail, talvez, perguntando se está tudo bem, se precisa de ajuda. E descobre que o fim da história mal resolvida não tem explicação. E se ela perguntar um dia se você entendeu as decisões dela, você devolve: "De ter me largado? Não, e você entendeu?" Sabe o que ela dirá? "Também não."

Descobre que os filhos quando crescem não têm nada a ver com os pais nem se encaixam nas projeções, comparações ou expectativas criadas na infância. Descobre que, mesmo filiado a uma geração que quebrou tabus e diminuiu o gap entre pais e filhos, os segundos nunca entenderão os primeiros, haverá um conflito que parece ser a força motriz das relações: o novo nega o antigo, o dominante perde espaço, o gene é aprimorado.

Você descobre que a moda da sua adolescência volta. Com outros pingentes e significados. A roupa não vem com a simbologia contestatória ou alienante, nem com a mesma trilha musical ou discussões existenciais. A bata que você usou no passado vira moda novamente, mas não se cantam as mesmas músicas, nem se debatem os mesmos dilemas. A roupa volta sem conteúdo ideológico.

Descobre que as modas seguem um princípio dialético que se repete. O beat veio pra contestar o acomodado anterior. E sempre vem algo pra conservar. O hippie veio pra contestar, a disco veio pra acomodar, o punk veio pra contestar, o yuppie veio pra acomodar, o dark, pra contestar, o new wave, pra acomodar, o grunge, pra contestar, o clubber, pra acomodar, o britpop, contestar, o emo, acomodar.

Mas, de repente, ao envelhecer, você descobre que tais conceitos são relativos, como tudo, que o cara da discoteca queria dançar, como o cara da onda new wave e clubber, que há contestação no ato de pular e dançar com roupas coloridas em momentos obscuros, e há acomodação no paz e amor o hippie, que produziu o pseudo-acomodado punk niilista e autodestrutivo.

Quando você envelhece, lê cada vez menos matérias que falam de saúde ou milagres da medicina. Porque você sabe que já afirmaram que café faz mal, e já afirmaram depois que faz bem, o mesmo com o sal, o mesmo com o vinho, já aconselharam comer uma castanha-do-pará por dia e já desaconselharam, o mesmo com a pílula de alho, complexos vitamínicos, aspirina, Ginkgo biloba, até açaí. Depois de ser banida de todas as listas de dietas aconselháveis, agora dizem que carne vermelha faz bem. Que vitamina C não cura gripe, todos sabem, mas todos continuam tomando e apostando nela.

Se você está nos entas, já deve ter parado de fumar, trocou a Coca pela água com gás, e sabe que está na hora de aprender para que servem alguns botões do DVD ou comandos do celular, e sabe que está na hora de começar a ler manuais de aparelhos que estão cada vez mais sofisticados. Ler com óculos de leitura, óbvio.

Você sabe que envelheceu quando confunde giga com mega, ainda diz liquidação, em vez de sale, não sabe se o trema foi abolido, usa ASA e não pixel, descobre que as letras das bulas ou dos rótulos são em outra língua e ilegíveis, e que ler cardápio à luz de velas é desesperador.

Lamenta que o Brasil de fato não tem jeito, não cresce, é resistente a mudanças, é conservador, evita discutir temas como aborto, eutanásia, descriminalização da maconha, união homossexual, tem dificuldades em se enquadrar no time de países progressistas, e que a desigualdade só aumenta, a corrupção, idem, as favelas, idem, sabe que antes da Copa do Mundo tem aquela barulheira ufanista, e que se o Brasil perde vão procurar um culpado e terá até CPI, sabe que brasileiro não sabe perder no futebol, que continuarão a invadir gramados, e nunca ninguém será preso, que muitos camelôs venderão contrabando ou falsificados, que na apuração do carnaval vai rolar briga e protestos, na novela alguém será assassinado, outro descobrirá que não é filho de quem pensa que é, que um teminha polêmico, tipo casal do mesmo sexo se beijando, será debatido por colunistas e reprovado por religiosos.

A vantagem de envelhecer? Retirar da vida expectativas que só a tornam mais complicada e descobrir que no fundo ela é também engraçada.

Marcelo Rubens Paiva

Dedos sujos

O Brasileiro ainda não compreende em sua plenitude o poder de um voto e o impacto que essa ação tem em sua vida. Se tivesse se dado conta disso ante veria que a lei da ficha limpa não tem por objetivo real "peneirar" dentre os postulantes aos cargos eletivos aqueles que podem ou não participarem do pleito. A lei na verdade age sobre o eleitor inconseqüente que vota em qualquer um, independentemente de seu histórico e de sua postura no que tange ao tratamento do bem público.

Hoje ao votar, o eleitor não se preocupa com a coletividade, afinal o que importa é a sua situação pessoal. Se tenho emprego, porque votar em alguém que me promete criar mais empregos? Se tenho casa porque votar em alguém que promete construir novas moradias? Preocupações com o meio ambiente, câmbio, política externa, importações e reforma agrária são ainda mais abstratas. O eleitor vota conforme sua conveniência, assim quando aparem políticos que lhe prometem aquilo que ele quer ouvir, pouco importam sua ética ou mesmo a legalidade da proposta, já está eleito.

Esse comportamento amoral (ou imoral talvez) explica como alguns políticos reconhecidamente corruptos conseguem se eleger com facilidade e não raramente com um número soberbo de votos. Por outro lado, quando encontramos políticos resistem à tentação de oferecerem qualquer coisa em troca do voto, mas oferecem coisas como por exemplo educação de qualidade, melhoria da gestão do orçamento ou reformas institucionais o eleitor raramente consegue ver nisso um benefício, muito embora tais coisas sejam justamente as que ele mais necessita enquanto cidadão.

Parte disso é reflexo da atual cultura de consumo imediato com a qual somos bombardeados constantemente. Se os objetivos e o retorno do investimento só vem no longo prazo então não é atrativo, não importa quão valioso seja. Do contrário, se tenho lucro e retorno garantido agora, então vale a pena sacrificar a saúde e a educação em prol de um cargo de confiança ou de um lote, ainda que dentro de uma área de proteção ambiental.

Outra causa aparente deste comportamento é uma inerente falta de patriotismo.  Somos extremamente patrióticos durante a Copa do Mundo, desfilamos com a Bandeira nacional a tira-colo, nos carros, nas casas, nos prédios de apartamentos e de escritórios, cantamos o Hino Nacional no início de cada jogo e dizemos ter orgulho de sermos Brasileiros. Mas encerrada nossa participação, tudo é recolhido, não se vê mais a bandeira nos capôs dos carros e não mais cantamos nosso magnífico Hino.

O eleitor mediano é assim. Não está preocupado com o País. Seu voto está a disposição para ser rifado e leiloado. "Quem dá mais?" São os dedos sujos. No país da lei da Ficha Limpa, precisamos ainda limpar nossos dedos, antes de digitarmos nossos votos em nossas modernas urnas eletrônicas.