sábado, 3 de agosto de 2013

Revoluções por minuto!

Falta pouco para o dia 07/09, tenho visto alguns post conclamando a população a se manifestar e não deixar "o gigante" adormecer novamente, mas de um modo geral a verdade é que se está perdendo o gás sim. Muito disso é devido ao fato de que muito pouco se avançou, mas o fato é que além de no início ter faltado foco nas manifestações, os problemas do Brasil são tantos e tão diversificados que não existe mágica e nem santo que realizará o milagre de consertar tudo em poucos meses, provavelmente a mudança (ou melhor as mudanças) que queremos levarão mais de uma década para surtirem os efeitos desejados.

Isso contudo, não é motivo para desânimo, pois se assim procedermos então podemos abandonar aqui toda e qualquer esperança. Muito pelo contrário, todos temos obrigação moral, cívica e política (sim, isso mesmo) de fazer a nossa parte. Penso em uma proposta para iniciarmos, um objetivo comum e que creio todos concordem invariavelmente. Que tal todos, eu disse todos mesmos nos esforçarmos para uma manifestação nacional que exija dos políticos a redução imediata em 50% de todos os tipos de vencimentos e verbas indenizatórias recebidas por eles. Sem restrição e sem margem para acordo. Conjuntamente a a aprovação de uma lei que determine que os reajustes futuros dessas verbas seja vinculado ao reajuste do salário mínimo, sem possibilidade de qualquer tipo de manobra que venha a burlar a lei.

Esse corte teria de ser feito de tal maneira a atingir todos os cargos eletivos, de Vereador a Presidente da República.

Em última instância o cargo político é um cargo delegado pelo eleitor, pago pelo contribuinte, nós somos os chefes, portanto somos nós que devemos decidir o quanto estamos dispostos a pagar ao "nossos empregados". Se eles não gostarem, se acharem o salário baixo, procurem outro emprego, ora.

Por favor meus amigos, compartilhem essa idéia, você pode até duvidar que vá dar certo, mas não acredito que você discorde dela, a não ser que você vá se candidatar nas próximas eleições!

sexta-feira, 12 de julho de 2013

2ª parte da travessia

 A cirurgia ocorreu sem incidentes e não tenho do que me queixar em relação à equipe do hospital, tanto na UTI, quanto no apartamento fui muito bem atendido. Ao despertar a minha primeira reação foi procurar sentir meus membros, havia tantos tubos e aparelhos conectados que eu mais parecia um poste de favela cheio de gambiarra! Demorou um pouco pra me dar conta da quantidade de incisões, foram ao todo oito, sem contar é claro o soro e os medicamentos intravenosos. Além disso, como mais um brinde, eu estava quase sem voz. Um dos cortes foi no pescoço, bem próximo às cordas vocais, o que paralisou temporariamente uma delas e parte da epiglote, resultando numa voz bem rouca e uma redução significativa no meu fôlego ao tentar falar. 

Aos poucos a quantidade de aparelhos ligados a mim foi diminuindo restando somente os três drenos, um no flanco esquerdo e dois no abdome e após cinco dias recebi alta da UTI. Assim que fui realocado o Dr Ricardo, meu cirurgião, foi ao meu encontro ainda no apartamento provisório que ocupei no 3º andar, me lembro perfeitamente disso. Ele chegou de sopetão e com um largo sorriso me perguntou se podíamos nos livrar daqueles "cachorros loucos"  - os drenos. Concordei ingenuamente e ele começou a relatar alguns detalhes da cirurgia, que nem mesmo foi preciso realizar transfusão de sangue, como tinha transcorrido e etc, enquanto com uma pequena lâmina ia cortando os pontos que prendiam os tubos ao meu corpo. Até aí tudo bem, até que ele simplesmente puxou o primeiro tubo, o do flanco esquerdo, rápido e sem nenhum aviso prévio. Vi estrelas na hora, não xinguei ele por quê o fôlego não deu e antes que eu tivesse tempo de inspirar direito ele já havia puxado os outros dois.

O restante da recuperação da cirurgia foi bastante tranquila  e levou mais onze dias de internação, com fisioterapia, fonoaudiologia e muita paciência. A família e os amigos foram determinantes para ajudar nesse último quesito, depois da correria inicial agora já tinha um suporte maior o que é sempre essencial. Minha mãe e meu sobrinho mais velho se revezaram como meus acompanhantes no apartamento. Foi somente nessa fase que descobri um novo efeito colateral da cirurgia, ao ficar de pé e tentar andar sentia uma forte dor na perna direita, a princípio a orientação médica era de que a dor deveria desaparecer gradualmente a medida em que a exercitasse. Finalmente no dia 26/11/2011, um sábado recebi minha alta hospitalar e novamente com ajuda de um amigo, Paulo Roberto Menezes Lima, eu e meus acompanhantes rumamos para o Sobradinho.

Mas como alegria de pobre dura pouco, a dor na perna não diminuiu e para piorar comecei a sentir novamente o mesmo tipo de dor abdominal de antes. Era pouco mais de 12h da segunda-feira, dia 28/11/2011, quando pedi para voltar ao hospital, teimoso como uma mula, fomos de ônibus mesmo. É, eu estava com dor na perna direita e abdominal e fui andando até a parada, uns trezentos metros eu acho, peguei um ônibus, desci na parada da 116 Norte e fui andando até o Santa Helena. A cereja do bolo ainda estava reservada, mal descemos do ônibus e começou a chover! Chegamos totalmente encharcados à emergência e lá pelas 18h fui internado novamente. 

No dia seguinte recebi a visita do Dr. Isaac, que auxiliou o Dr. Ricardo na primeira cirurgia e fui informado de que seria necessário uma nova cirurgia para implante de um stent, pois a artéria estava comprimida próxima ao rim direito, em função da dissecção que se estendeu desde a válvula aórtica até próximo à artéria ilíaca e o sangue não estava chegando em quantidade suficiente aos membros inferiores, fígado, rim direito e baço.

Essa foi a segunda cirurgia em menos de trinta dias. Não tive tempo de passar pelos cinco estágios do Modelo de Kübler-Ross (ou como são mais popularmente conhecidos Os Cinco Estágios da Dor da Morte, ou da Perspectiva da Morte), a saber negação e isolamento, raiva, negociação e diálogo, depressão e aceitação. Neste ponto a fé foi sempre um suporte poderoso e imprescindível. Não vou me ater aqui a isto mas basta dizer que confiar em Deus é a melhor oração que há.

Dissecção de Aorta - Traduzindo


A dissecção de aorta é uma condição potencialmente fatal em que ocorre uma hemorragia para dentro e ao longo da parede da aorta, a artéria principal que transporta o sangue para fora do coração. Quando deixa o coração, a aorta move-se primeiro para cima através do peito na direção da cabeça (a aorta ascendente). Em seguida ela dobra ou arqueia, e finalmente move-se para baixo através do tórax e abdómen (aorta descendente).

Assim como todas as outras artérias, a aorta é composta por três camadas. A camada que está em contato direto com o fluxo sanguíneo é a túnica íntima, logo abaixo desta camada está a túnica média, e a camada mais externa (mais distante do fluxo sanguíneo) é conhecida como túnica adventícea. Na dissecção da aorta, o sangue penetra na íntima e entra na camada média. A alta pressão rasga os tecidos da camada média, permitindo que mais sangue entre no espaço criado. Isso pode se propagar ao longo do comprimento da aorta por uma distância variável, dissecando em direção ou para longe do coração, ou em ambas as direções. O rasgão inicial geralmente está a 100 mm da válvula aórtica.Uma dissecção aórtica é classificada como sendo de tipo A ou B, dependendo de onde ele começa e termina.

  • Tipo A começa na primeira parte (ascendente) da aorta.
  • Tipo B começa na parte descendente da aorta
Quase todas as pessoas com uma dissecção aórtica apresentam dor, geralmente repentina e muito intensa. Habitualmente, os doentes descrevem-na com uma ruptura ou rasgão no peito. Também é frequente nas costas, entre as omoplatas. A dor irradia na mesma direcção da dissecção ao longo da aorta. Quando uma ruptura ocorre, criam-se dois canais: um no qual o sangue continua a viajar e outro onde o sangue permanece imóvel, ou ainda, circule entre as camadas da parede da aorta, forçando-as. A dissecção da aorta é uma emergência médica e pode levar à morte rapidamente, mesmo com um tratamento adequado. Se a dissecção romper a aorta completamente (as três camadas da artéria), uma perda rápida e massiva de sangue irá ocorrer. As dissecções aórticas que resultam na ruptura do vaso têm uma taxa de 90% de mortalidade. À medida que a dissecção aórtica cresce, o canal com sangue que não viaja pode ficar maior e empurrar outros ramos da aorta. Uma dissecção aórtica pode envolver também o alargamento anormal ou inchaço da aorta (aneurisma).

Causas da dissecção de aorta

A causa exata é desconhecida, mas os riscos incluem aterosclerose (endurecimento das artérias) e pressão arterial elevada. Lesão traumática é uma das principais causas de dissecção, especialmente trauma no peito. Bater no volante de um carro durante um acidente é uma causa comum de trauma no peito. Outros factores de risco e condições associadas com o desenvolvimento de dissecção incluem:
  • Envelhecimento
  • Válvula aórtica bicúspide
  • Coarctação (estreitamento) da aorta
  • Danos nos tecidos conjuntivos
  • Síndrome de Ehlers-Danlos
  • Cirurgia ou procedimentos cardíacos
  • Síndrome de Marfan
  • Gravidez
  • Pseudoxantoma elástico
  • Inflamação vascular devido a condições como artrite e sífilis

A dissecção aórtica ocorre em aproximadamente 2 em cada 10.000 pessoas. Pode afectar qualquer pessoa, mas é mais frequentemente vista em homens entre os 40 e 70 anos. Do ponto de vista estatístico, 2.000 a 4.500 pessoas são acometidas e diagnosticadas anualmente na América do Norte, com uma incidência maior que o aneurisma abdominal aterosclerótico. É maior a incidência a partir da quinta década de vida e no sexo masculino.

Diagnóstico e procedimentos

O seu prestador de cuidados de saúde irá obter dados sobre a sua história familiar e ouvir o seu coração, pulmões e abdômen com um estetoscópio. Um murmúrio parecido com um sopro sobre a aorta, um sopro no coração, ou outros sons anormais podem ser ouvidos. Pode haver uma diferença na pressão sanguínea entre os braços direito e esquerdo ou entre os braços e as pernas. Pode ter pressão arterial baixa, abaulamento nas veias do pescoço ou sinais semelhantes a um ataque cardíaco. Pode haver sinais de choque, mas com pressão arterial normal.

A dissecção aórtica ou aneurisma da aorta pode ser visto através de vários métodos disponíveis, como radiografia convencional do tórax, ecografia transtorácica e transesofágica, tomografia computadorizada, angiografia contrastada e angiorressonância.É importante empregar vários métodos diagnósticos para afastar a possibilidade de falsos-negativos. Procura-se detalhar a localização, a extensão, o grau de acometimento valvar aórtico, se presente, dos vasos supraórticos, abdominais e membros inferiores.

Os médicos aconselham, geralmente, a cirurgia em dissecções que afectem os primeiros centímetros da aorta, contíguos ao coração, a menos que as complicações da dissecção impliquem um risco cirúrgico excessivo. Para as dissecções mais afastadas do coração, os médicos mantêm, geralmente, a farmacoterapia, com excepção daquelas dissecções que provocam saída de sangue da artéria e das dissecções nas pessoas com a síndroma de Marfan. Nestes casos, é necessária a cirurgia.

Durante a cirurgia, o cirurgião extrai a maior parte possível da aorta dissecada, impede que o sangue entre no canal falso e reconstrói a aorta com um enxerto sintético. Se a válvula aórtica se encontrar danificada, repara-se ou substitui-se.

Possíveis complicações
  • Ruptura da aorta causando uma rápida perda de sangue e choque
  • Hemorragia da aorta
  • Coágulos de sangue
  • Tamponamento cardíaco
  • Ataque cardíaco
  • Baixo fluxo sanguíneo através da dissecção
  • Insuficiência renal permanente
  • AVC
 Fontes:


quarta-feira, 10 de julho de 2013

1ª parte da travessia

Muito embora eu tenha abandonado este blog muito antes, meramente por falta de tempo, ultimamente o que mais tenho tido é tempo!  E isso não é necessariamente uma bênção, ou até talvez seja, como disse anteriormente é tudo uma questão de ponto de vista. Para explicar melhor tenho de voltar no tempo, mais precisamente ao dia 04/11/2011, sexta-feira. É óbvio que até esse dia muita coisa já havia acontecido na minha história, mas vou me abster de muitos detalhes que não vão acrescentar muita coisa, basta dizer que eu estava no ápice de uma situação de extremo stress emocional devido à minha separação.

Nesse dia em particular, após o almoço e uma nova briga pelo telefone eu me dirigia para algo que para mim era até um alívio àquela altura, uma reunião de equipe! Não me lembro mais o assunto, até porque a cabeça estava bem longe. Só me lembro do mal-estar, a princípio muito similar à uma cólica renal. Não aguentei chegar ao final da reunião e por volta das 16h pedi a um amigo, Waldomero Aranda Filho, que me ajudasse e me levasse a um hospital.

Como naquela época estava morando no Sobradinho, cidade satélite de Brasília, optei pelo hospital Santa Helena, no final da Asa Norte. Não conhecia e nunca havia estado ali, foi mero acaso, ou não. Ao fim da noite acabei ficando internado em observação, com um diagnóstico de infecção urinária, ao que fui liberado no dia seguinte, sábado. Novamente os amigos me socorreram, pois a alta hospitalar ocorreu quando estava recebendo a visita de uma outra amiga de trabalho, Liége Greff, que me deu uma carona pra casa.

Aqui agora vai um trecho da história que ninguém conhece, à minha família já aviso logo, não contei a ninguém por três motivos, primeiro não deu tempo, segundo, depois de tudo não queria deixar ainda mais apavorada minha mãe, e terceiro e último, acho que isso nem me pareceu importante depois dos eventos que vieram na sequência.

Pouco mais de 1h depois de chegar em casa fui acometido de uma forte dor no peito, falta de ar e desorientação. Acreditei mesmo que estava infartando e por alguns segundos nem sequer consegui reagir. Não sei quanto tempo durou, talvez uns 30s, pareceu uma eternidade. Depois de um tempo amenizou e consegui pegar o celular e chamar uma ambulância. Fui levado pro Hospital Regional do Sobradinho, o eletrocardiograma não acusou nada e depois de medicado fui novamente liberado. Alguém vai brigar comigo por só estar falando isso agora e aqui.

Mas, desgraça pouca é bobagem e no domingo, dia 06/11 de manhã cedo fiz uma caminhada e fui ao Hospital Santa Helena, pegar os resultados dos exames que havia feito lá no sábado de manhã antes da alta. Os exames também não deram em nada, mas já que estava no caminho havia um churrasco na casa de um terceiro amigo, Edvaldo Araújo! É, depois de tudo isso, nada melhor que o cheiro de carne assada para relaxar. Tudo bem, evitei a cerveja, mas não a carne e o refrigerante. No final do churrasco o Edwaldo se prontificou a me dar uma carona pra casa.

Segunda-feira de volta ao batente, e com a dorzinha voltando a incomodar, trabalhei o dia inteiro na raça mesmo, só eu sei! A noite foi um tormento e aí não teve jeito, na manhã do dia 08/11, terça-feira voltei ao hospital, desta vez acabei no Prontonorte, mas devido às circunstâncias fui encaminhado de volta ao Santa Helena. Lá a Clínica Médica resolveu então pedir uma tomografia computadorizada do tórax, exame feito voltei pra casa, afinal eram 11h da manhã e o resultado só sairia às 16h.

Outro detalhe nessa história toda, tirando as três caronas que recebi e o curto passeio na ambulância do SAMU, todos os demais trajetos foram feitos de ônibus, só quem viajou no busão da famigerada Viplan, imagina do que estou falando.

Enfim, retornei ao Santa Helena para pegar o resultado da TC, a médica (um anjo que não me recordo o nome) já havia encerrado o expediente e fui atendido por outro médico. Quando ele viu o resultado ficou mais que pálido, me mandou deitar numa maca e saiu correndo procurando outro médico, demorou um pouco até eu ter alguma noção do que estava acontecendo.Cerca de 30 minutos depois veio o primeiro angiologista me comunicar o diagnóstico de Dissecção Aórtica e me informar da necessidade de cirurgia.

Hoje não tenho mais muitos detalhes, foi muito rápido, atropelado e junto com os medicamentos e a dor, algumas lembranças são meio confusas. Uma coisa é certa, na falta de alguém com que contar o jeito foi ligar para minha (ex-)esposa. Esse crédito eu tenho de lhe dar, afinal ela veio até o hospital mesmo estando brigados e me acompanhou durante algum tempo. Paralelamente também avisei minha família, todos à época já estavam morando em Goiânia e foi uma correria só.

No início da madrugada do dia 09/11 eu já estava sendo operado para substituição da Aorta Ascendente por um tubo de Dacron pré-coagulado. A cirurgia foi realizada pelo Dr. Ricardo Barros Corso auxiliado pelo Dr. Isaac Azevedo Silva. A despeito do sobrenome longe de ser um corsário, o Dr Ricardo aceitou realizar a cirurgia mesmo não estando atuando junto ao meu convênio médico. A cirurgia e o material utilizado custaram à época mais de R$ 450 mil, mas isso é um detalhe (pelo menos para mim). Esses detalhes só vim a saber bem mais tarde, neste ponto tive outra ajuda importante, Marco Antônio de Souza Costa, à época Gerente Executivo da Cassi.

Não vi túneis ou luzes, não ouvi vozes, não me vi fora do corpo e não me encontrei com nenhum parente falecido. Nada disso que as pessoas costumam relatar em situações como essas. Apaguei quando aplicaram a anestesia assim que entrei na sala e só acordei na UTI no dia seguinte (eu acho!?).

Retornando...

Ainda é com um pouco de relutância que retorno a esse blog, os motivos pelos quais o criei já não existem, muito embora o seu objeto de referência ainda seja um dos meus temas favoritos. Em princípio achei que aqui seria um bom lugar para iniciar uma série de relatos que penso, talvez, possam ser úteis de alguma forma, a mim primeiramente, como válvula de escape, ou a um possível leitor que venha a passar por situações semelhantes, o que de forma alguma desejo.

Se você prestar atenção verá que minha última postagem foi em outubro de 2010, já se vão quase três anos e muita coisa aconteceu, comigo e com o mundo, mas inicialmente vou deixar a história do mundo de lado. Tão prolongada ausência teve vários motivos e o primeiro deles foi uma excessiva dedicação à família e a compromissos profissionais e acadêmicos. O resultado destes esforços atende pelo singelo nome de Dissecção da Aorta tipo A. Traduzindo é um rasgão na parede da aorta (a maior artéria do corpo). Este rasgo faz com que o sangue circule entre as camadas da parede da aorta, forçando as camadas. As dissecções aórticas que resultam na ruptura do vaso têm uma taxa de 90% de mortalidade se uma intervenção médica não é realizada a tempo. Bem, como podem imaginar estou nos 10% restantes visto que estou aqui digitando.

Nos próximos posts irei contar como se deu essa ruptura e aonde essa reviravolta me levou, não sei se vou conseguir terminar essa sequência e não me refiro à minha condição médica, mas apenas à inexatidão do futuro. Olhar para trás, contar e analisar o acontecido é uma coisa, olhar pra frente é complicado afinal o por vir é algo que depende de tantas variáveis incontroláveis que o transformam numa miríade de possibilidades infinitas. Ainda assim é curioso como algumas coisas assumem nova perspectiva a medida que nos distanciamos, mesmo o passado aparentemente imutável ganha novos tons conforme o observador se posiciona ou conforme suas crenças e valores sejam diferentes. A minha própria história é algo que vi sendo alterada e adulterada e não apenas por mim, mas também pelas outras pessoas que com ela interagiram direta e indiretamente.

Aos meus amigos que eventualmente lerem esses relatos peço que, se possível, acrescentem a eles suas impressões e memórias correlatas a fim de que eu também possa ter uma perspectiva diferente, pois acredito que a verdade, embora seja uma só, se apresente como um diamante lapidado e multifacetado. A cada ângulo pelo qual é observado vemos um brilho e um reflexo diferente do outro.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

História do Rio de Janeiro - O Hospício de Pedro II

Com o início do século XIX, o tratamento de doentes mentais ingressou
em nova fase, seguindo o trabalho desenvolvido por Philippe Pinel no
hospital Salpêtrière, em Paris. Com abordagem mais humana, os grilhões
foram retirados e os doentes saíram do confinamento. A estranheza da
razão com relação à loucura continuou, é certo, mas pelo menos com
menos violência física.

A nova postura emulou iniciativas semelhantes no mundo todo, e entre
nós a primazia coube à Santa Casa de Misericórdia que, através do
provedor José Clemente Pereira, propôs a construção do primeiro
hospício de alienados do Brasil. Com o apoio do imperador D. Pedro II,
as obras iniciaram em setembro de 1842, ficando pronta a obra dez anos
depois.

O local escolhido ficava na Chácara do Vigário Geral, propriedade da
Santa Casa, na Praia Vermelha, à qual foram acrescentados outros
terrenos. O belo prédio, projeto do arquiteto Domingos Monteiro,
recebeu em dezembro de 1852 os primeiros pacientes, ficando os homens
do lado direito e as mulheres à esquerda. A rotina dos internos
incluía trabalhos manuais, os quais supriam várias necessidades
internas da instituição.

O Hospício de Pedro II foi retirado da jurisdição da Santa Casa em
1890, tornando-se "Hospício Nacional de Alienados", entrando em
decadência, até ser resgatado por Pedro Calmon que, a partir de 1948,
conseguiu incorporá-lo à Universidade do Brasil, hoje UFRJ, salvando-o
da destruição certa nas mãos dos eternos oportunistas de ocasião.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Mapas Antigos

O ser humano produziu mapas mundi antes da última era do gelo mostrando a Antártida desprovida de gelo, provavelmente com o auxílio de Vimanas.
O descobrimento dos mapas se remonta a 9 de novembro de 1929 quando o palácio Topkapi, em Istambul, foi transformado em museu de antigüidades e seu diretor, B. Halil Eldem, encontrou dois fragmentos de um mapa traçado pelo marinheiro Piri Reis, navegante turco do século XVI. Os fragmentos correspondiam a uma extensa coleção composta por 210 mapas parciais com o título genérico de "Livro dos Mares" e datados nos anos 1513 e 1528.



O fragmento de 1513 inclui Grã-bretanha, Espanha, África Ocidental, parte da América do Norte e da América do Sul (incluído o Amazonas e o Golfo da Venezuela) e a costa da Antártida até uma zona por debaixo da África. Por estar rasgado, se suspeita que deva conter também o resto da Europa, Ásia e inclusive Austrália.

O mapa datado de 1528 abarca a Groenlândia, a Península do Labrador, Terranova, parte do Canadá e toda a costa oriental da América do Norte, chegando à Florida.



Segundo as anotações que deixou nos mapas, Piri Reis disse que confeccionou seus mapas utilizando 20 velhos planos e 8 mapas-múndi que se encontravam na Biblioteca Imperial de Constantinopla e que foram confeccionados supostamente na época de Alexandre Magno (356 a.C. - 323 a.C.), de modo que mapas feitos no século XVI nos trasladam de golpe a outros mapas muito mais antigos (!).

Segundo o professor Hapgood, muitos dos mapas custodiados no século XVI nesse recinto haviam chegado até ali graças a marinheiros fenícios. "Temos evidência-assegura Hapgood – de que eles consultaram-nos e estudaram-nos na grande Biblioteca de Alexandria e que essas compilações foram feitas por geógrafos que trabalharam ali".



Muitos têm sido os estudiosos destes mapas e numerosos são todavia os que pretendem desvendar o mistério que encerram.

Em meados dos anos 50 algumas cópias destes mapas foram parar com o cartógrafo norte-americano Arlington H. Mallery, especializado em antigas cartas marinhas há décadas. Arlington Mallery solicitou a colaboração de seu colega Walters, do Instituto Hidrográfico da Marinha dos Estados Unidos.

Já de entrada, Walters observou a exatidão das proporções e distâncias entre o Antigo e o Novo Mundo, assim como a localização das ilhas Canárias e dos Açores.

Ambos investigadores observaram que Piri Reis não utilizou as coordenadas habituais de seu tempo, considerou realmente que a Terra era redonda e o teve em conta ao traçar seu mapa.



Para poder estudar mais a fundo e com o máximo detalhamento os mapas de Piri Reis, decidiram fabricar uma espécie de rede que lhes permitiria ler as dimensões do antigo mapa e poder transferir a escala a um moderno globo terrestre. 
Qual não seria sua surpresa ao descobrir que não só os contornos da costa americana, mas também os da Antártida, correspondiam com toda exatidão aos que hoje conhecemos graças à ciência moderna. Milímetro a milímetro se comparou o mapa de Reis com os perfis de terra submarina obtidos pelos mais modernos meios científicos: aerofotografia, tomadas subaquáticas com câmaras de raio infravermelhos, sondas acústicas enviadas de barcos... Com todos estes dados nas mãos, se deduziu que uns 11.000 anos antes (final da Era Glacial), existiu a dita ponte continental entre a América do Sul e a Antártida.



Comentar também que os perfis costeiros, ilhas, baías, e promontórios do continente Antártico estão representados nos mapas de Piri Reis com uma exatidão excepcional de perfis, mesmo que há muitos milhares de anos estão ocultos sob uma grossa camada de gelo.

Durante o ano de 1957, também se interessou pelos mapas o padre Lineham, antigo diretor do observatório astronômico de Weston e cartógrafo da Marinha Estadunidense. Sua conclusão foi a mesma: "os mapas (especialmente a zona da Antártida) são incrivelmente precisos, chegando a oferecer dados que a nós unicamente nos constam depois das expedições antárticas que suecos, britânicos e noruegueses levaram a cabo em 1949 e 1952".



O grande veterano da cartografia, professor Charles H. Hapgood, se entregava por sua vez ao estudo dos mapas de Piri Reis. 
Em uma das cartas recebidas por Hapgood da Força Aérea dos EEUU, encarregada de cartografar a Antártida, se anotava o seguinte: "As linhas costeiras tiveram que ser cartografadas antes que o continente ficasse coberto pelo gelo. Nessa região a capa de gelo alcança cerca de uma milha de espessura (1609,344 metros - ou 1,6 km). Não temos a menor idéia de como esses dados puderam ser anotadas no mapa com apenas os conhecimentos geográficos de 1513".

Entre todos os investigadores que estudaram os mapas chegou-se a uma conclusão assombrosa: os mapas de Piri Reis só puderam ser confeccionados baseando-se em fotografias aéreas, tomadas a uma extraordinária altura, com alguma espécie de satélite como os utilizados na atualidade.

Obviamente, se isso era impossível de se pensar nos primeiros anos do século XX, como pode ser que foram realizados nos tempos de Alexandre Magno?, E se foi assim, com que informação se contou no século IV a.C. para poder confeccionar mapas tão perfeitos sem uma tecnologia só desenvolvida em finais do século XX?



Um "pequeno detalhe", denunciado até à saciedade pelo cientista espacial francês Maurice Chatelain, tende a assentar esta tese. Segundo Chatelain, a deformação que apresentam as linhas das costas no mapa de Piri Reis obedece a que esta carta "representava uma projeção plana da superfície esférica da Terra tal e como poderia ser vista hoje por um astronauta situado a uma grande altura sobre o Egito".



Efetivamente. Uma foto de satélite tomada a 4.300 kilometros sobre a vertical do Cairo mostraria, exatamente, essa deformação das costas... O que tem permitido aos cientistas do calibre de Chatelain supor que o mapa de Piri Reis é, em verdade, uma cópia de enésima geração de um mapa antiqüíssimo realizado desde a vertical da moderna cidade das pirâmides de Gisé.



Seja como for, a precisão do mapa de Reis não se detém aí. O Almirante turco posicionou em sua longitude e latitude corretas a América do Sul e a África. Empresa, por certo, nada fácil se levarmos em conta que até o século XVIII nossos marinheiros não podiam calcular com precisão as longitudes, por carecer de cronômetros que ofereciam margens de erro de poucos segundos. Não obstante, e para ser equânimes, deve-se reconhecer que Piri Reis cometeu certos "erros", como repetir duas vezes o curso do rio Amazonas ou o de ignorar a existência do rio Orenoco.



Sobre o primeiro, o professor Hapgood atribui a "falha" a que o Almirante copiou de mapas distintos duas vezes o mesmo rio; e o demonstra argumentando que se bem que um destes Amazonas recorre a ilha de Marajó em seu delta, o outro não o faz porque está baseado numa carta de uns 15.000 anos, quando todavia Marajó estava unida ao continente... Enquanto ao Orenoco, Hapgood desculpa a Piri Reis argumentando que, em lugar deste rio, o Almirante desenhou dois profundos entrantes no continente que deveriam se transformar no rio há também milhares de anos (!).

Mas as surpresas não acabam aqui. Ao observar-se detidamente os mapas de Piri Reis, pode-se ver que entre a América do Sul e a África existe uma grande ilha denominada "Antilhia" (que não existe na atualidade) rodeada de outras ilhas de menor tamanho. E já que temos visto que os mapas de Piri Reis não são fruto da casualidade, não será esta ilha a famosa Atlântida de Platão?



As rotundas afirmações de Hapgood cortam o alento ainda mais de duas décadas depois de ser formuladas. De fato, recentemente, idêntica tese tem sido retomada pelo periodista e historiador Graham Hancock em sua obra "Fingerprints of the Gods", onde pretende demonstrar que faz mais de 2.000 anos habitou a Terra uma cultura muito desenvolvida, científica e tecnologicamente. Seu livro, que tem merecido toda classe de críticas por haver passado ao largo de investigações prévias de expertos como Sitchin ou Von Däniken, conduz até outros mapas antigos que beberam das mesmas misteriosas fontes documentais que Piri Reis e que recorrem as mesmas cartografias "impossíveis" subglaciais da Antártida, assim como costas em sua época ainda não descobertas.



O exemplo mais destacado é o mapa antártico de Oronce Finé, traçado em 1531. Sua descrição do continente gelado se ajusta quase totalmente às cartografias da Antártida desenvolvidas a partir de seu descobrimento oficial em 1818. E é que Finé passou muito perto, pois não só desenhou detalhes de suas costas não descobertas até datas recentes, senão que localizou corretamente o lugar do Pólo Sul, traçando seu mapa graças a cartas necessariamente elaboradas, sempre segundo o professor Hapgood, "quando as costas deviam estar livres de gelo".



Hapgood ficou fascinado com este mapa. Levou cópias do mesmo ao doutor Richard Strachan, do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), para sua análise, confirmando que Finé copiou sua carta de outras anteriores e que as originais mostram o perfil dos rios antárticos com o aspecto que deviam apresentar há seis milênios, antes que os depósitos de sedimentos modificassem parte de seu aspecto.



Mas Finé não foi o único a copiar estes misteriosos "mapas-mãe". Um contemporâneo seu, apelidado Mercator - e o que muitos identificam com o célebre cartógrafo Gerard Kremer –, traçou um Atlas em 1569 no que localizava com precisão lugares descobertos muitos séculos mais tarde, como o Mar de Amudsen ou o Mar de Bellinghausen. O certo é que Mercator teve laços muito estreitos com o Egito, chegando inclusive a visitar a Grande Pirâmide em 1563. E não seria descabelado supor que, fruto dessas conexões, Mercator obteve os "mapas-mãe" (ou cópias dos mesmos, perdidas hoje) que lhe serviram de documentação para sua obra. Uma obra, por certo, que serviu de guia duzentos anos mais tarde a Philippe Buache, um cartógrafo oitocentista que também desenhou a Antártida - desta vez em sua totalidade – desprovida de gelo. Um mapa que, por certo, não pode "imitar-se" até que os cientistas obtivessem novos dados deste continente em 1958, por motivo do Ano Geofísico Internacional.



Não são os dados contidos nestes mapas um indício mais que sólido da existência de um saber muito anterior ao que admite a História, localizado na região do Nilo? A resposta a esta interrogação só pode ser afirmativa… 

Disponível em Portal/Revista Vigília

Destino

O que determina a sorte (ou a falta dela) na vida das pessoas? O que é, exatamente, o destino? A complexidade do assunto é grande, pois envolve religião e espiritualidade, um pouco de Teoria do Caos, Física quântica, cosmologia, Teoria dos Jogos, etc.

Como já especulavam cientistas, como David Bohm e Carl Pribram, vivemos num mundo holístico, onde tudo se interelaciona como uma grande rede. O nosso cérebro é holístico (essa palavra é grega, de hólos = todo) e, de fato, quanticamente falando, a fronteira que separa um corpo do ambiente que o cerca é extremamente tênue. Os elétrons dos átomos da parte mais externa de minha pele se intercambiam com os elétrons dos átomos de nitrogênio e oxigênio do ar ao meu redor. Por isso o chamado 'efeito borboleta', ao afirmar que o bater de asas de uma borboleta sobre o Pacífico pode provocar uma tempestade no Atlântico. Entre as inúmeras alegorias do filósofo grego Platão (428-347 a.C.), há um curioso relato chamado 'o conto de Er, o Panfílio'. Está no diálogo República e explana a história de Er, um cidadão da Panfília (hoje, na Turquia) que teve uma EQM (experiência de quase-morte). Ele retornou à vida quando já era levado à pira incineratória (aliás essa história parece muito com outra que conheço, de autoria de Plutarco de Queronéia; a quem interessar, possuo o relato em grego koinê). Ao acordar, Er contou o que viu do outro lado. O mais interessante do relato é o que acontecia com as almas que precisavam retornar à vida.

Antes de prosseguir, para maior clareza no relato, gostaria de falar um pouco sobre a geografia do Érebo, tal como era aceita pelos gregos. O Érebo era o local dos mortos; um conceito um pouco diferente do que temos atualmente, entre as religiões cristãs, pois era um território físico, todo debaixo do solo. Tenho razões para crer que essa idéia seja oriunda do tema Atlântida, pois a palavra Érebo, vem de uma antiquíssima raiz pré-indoeuropéia, que significa 'o que fica no extremo ocidente' (inclusive é daí que provém a palavra Europa). Ora, para os europeus, o que ficava no extremo ocidente era o Atlântico e sua mítica ilha, onde vicejava grandiosa civilização, e que, ao afundar, veio a ser sinônimo de 'morada dos mortos'. O passar do tempo levou ao esquecimento das verdadeiras origens e à transposição desse território para o subsolo grego. O Érebo era uma imensa planície, dividida em 5 setores, separados por rios. O rio Aqueronte era o primeiro avistado pelas almas. Era nele que navegava o barqueiro Caronte, para quem deveria ser pago o preço de 1 óbolo, para que ele transportasse a alma até o outro lado do rio. Por isso, os gregos tinham o costume de colocar um óbolo sob a língua do recém-falecido, para garantir sua travessia. O Aqueronte possuía um afluente, chamado Cocito, formado pelas lágrimas das almas que haviam esquecido o óbolo e ficavam condenadas a permanecer o resto da eternidade do lado de cá.

As almas que atravessavam o rio, se deparavam com o local do julgamento, onde residiam os juízes Minos, Radamanto e Sarpedão (ou Éaco, por outras versões); mais ao fundo, ficava o palácio de Hades (o Plutão dos romanos), o deus do submundo, onde morava com sua esposa Perséfone, palácio vigiado pelo cão de três cabeças, Cérbero. O julgamento determinava o destino da alma; a depender do peso de seus pecados, ela era encaminhada para um de três locais possíveis: o Tártaro, local de suplício para os maus; os Campos Asfódelos, onde as almas não tão más se purificavam; e os Campos Elísios, para onde iam as boas almas, os heróis e semi-deuses. Essas regiões eram separadas entre si por outros dois rios: o Estige e o Flegetonte. Há indícios de que tais regiões tenham originado os conceitos católicos de Céu, Purgatório e Inferno. Lembremos que entre os primeiros cristãos, uma proeminente ala era a dos gnósticos, cuja teologia era de origem neo-platônica, como, por exemplo, Orígenes.

Feitos esses esclarecimentos, retornemos ao relato de Er. Foi-lhe concedida a permissão para observar o que acontecia com as almas nessa imensa região. Platão, nesse relato, introduziu uma interessante variação: para os gregos, o Érebo era morada eterna. Para Platão, era apenas uma temporada, antes do retorno ao mundo material. Por isso, ele menciona a existência de um quinto rio, chamado Letes, o rio do esquecimento, diante de outra planície, onde residiam o deus Destino e suas assistentes, as Moiras (Parcas dos romanos). Destino espalhava no chão uma imensa quantidade de fichas, cada uma correspondente a um modo de vida; assim, havia a ficha 'vida de pescador', outra 'vida como rei', 'vida de guerreiro', 'vida como um cego', etc., etc. Às almas era concedido o direito de escolher qualquer ficha que quisessem. A ficha escolhida era pendurada no pescoço e, a partir daí, ela não poderia mais trocar de ficha. Por isso a escolha tinha de ser cuidadosa, pois, uma vez no pescoço, a alma era imediatamente puxada pela primeira Moira, Cloto (a que dava início ao fio da vida); a segunda, Láquesis, era a que direcionava a trama do fio, de acordo com a ficha que a alma escolhera. E a última, Átropos, era a que cortava o fio, determinando a morte da pessoa. Logo que Cloto iniciava a tessitura, a alma mergulhava no rio Letes e, ao sair do outro lado, não lembrava mais de nenhuma de suas vidas anteriores. Entrava em novo útero e iniciava sua nova vida.

O retorno à uma nova vida chama-se palingenesia (do grego 'palin' = novamente + 'genesis' = nascimento) e era conceito aceito por muitos povos antigos, especialmente os indianos e egípcios. Entre os egípcios, há o impressionante relato contido no chamado 'papiro de Anana', de cerca de 1.200 a.C. Há indícios, também, de que o batismo em água seria um rito inspirado na idéia do mergulho no rio Letes. Entre os judeus, especialmente os de origem essênia, esse rito era, aliás, feito literalmente em um rio.

Para os muçulmanos, destino traduz-se pelo conceito 'maktub', o determinismo divino. É um conceito radical, segundo o qual nossos destinos dependem única e exclusivamente da vontade de Alá. Os fatos da vida muitas vezes levam a pensar dessa forma: alguém morre em um acidente aéreo; porque ele tinha de morrer daquela forma? Porque, outro indivíduo, que estaria no vôo, atrasa-se por qualquer razão, e escapa do acidente? Se sou assaltado em determinado local, sei que poderia não ter acontecido, se tivesse passado por ali apenas 1 minuto antes, ou 1 minuto depois, ou tivesse escolhido outro trajeto. Porque escolhi aquele trajeto, naquele exato instante? Para os muçulmanos, Alá é quem determina tudo isso. Sou apenas uma marionete. Outras filosofias afirmam que nossas mentes é que detém esse poder. Cabe a você apenas saber utilizá-la. Para Platão, seria uma mescla das duas coisas.

Por Marcelo Valdi Régis [Adaptado]

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

História do Rio de Janeiro - A Pedreira da Candelária

Dentre os muitos templos antigos do Rio de Janeiro, um se destaca pela imponência do porte e riqueza. A Igreja da Candelária, nascida como simples ermida no início do século XVII, iniciaria um processo de transformação desde 1775, resultando no conhecido prédio atual. A necessidade pela principal matéria-prima dessa obra, a pedra, produziria um efeito inesperado, a mudança do nome de uma rua afastada, no bairro do Catete.

A obra da Igreja da Glória do Outeiro, no início do século XVIII, levou à abertura de uma pedreira em local próximo, junto ao morro no final da rua Pedro Américo, conhecida então como Pedreira da Glória. Essa atividade estimulou a ocupação da área, sendo aberto a seguir um novo caminho, chamado de rua do Quintanilha, proprietário das terras por onde esta passava.

Os trabalhos da Candelária abriram nova frente na extração da pedra, escolhendo-se um sítio em trecho próximo ao Largo do Machado. Como esperado, o nome da via acabou mudando em referência à atividade, que servia à construção do majestoso templo, passado a se chamar rua da Pedreira da Candelária, nome que permaneceu por mais de cem anos.

Transformando-se em importante via de acesso, paralela à rua do Catete, tornou-se uma das mais conhecidas desta região, plenamente ocupada com moradias, além de vigoroso comércio. Rebatizada como Bento Lisboa em 1917, continua extremamente ativa e popular hoje em dia, em que sua ligação com a obra da Candelária é quase desconhecida.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Genro de ministro do STF pediu 4,5 milhões a Roriz



Nas gravações, o genro do ministro diz que sua assinatura e o papel timbrado de seu escritório na representação feita por Roriz ao STF levariam seu sogro, Ayres Britto, a se declarar impedido. Segundo as regras regras vigentes, ter o genro como advogado de uma das partes é motivo bastante para que um ministro se declare impedido. Roriz dá a entender na gravação que, caso permanecesse na votação, Ayres Britto seria contrário ao seu pleito. A conversa entre os dois não prosperou. Dias depois, na madrugada de sexta-feira 24, o Supremo Tribunal Federal encerrou a sessao de votação do recurso de Roriz com um empate, 5 a 5. Ayres Britto votou contra Roriz. Diante do impasse, na manhã seguinte o candidato ao governo do Distrito Federal renunciou a favor de sua mulher, Weslian.

As eleições e suas características específicas

Estamos chegando ao primeiro turno das eleições presidenciais. Ela acontece no dia 3 de outubro, domingo próximo. Cada eleição é uma eleição, com suas especificidades. O processo que estamos vivendo não é diferente e apresenta um volume inusitado de características novas em relação aos últimos pleitos. A lista é grande. Vamos a ela.

O primeiro aspecto é o fato de que nunca na história recente um presidente da República teve tanto poder de influenciar o processo eleitoral. Lula, contrariando muitos, escolheu Dilma Rousseff e está prestes a elegê-la em primeiro turno com base em seu imenso prestígio popular e graças ao sucesso do seu governo, em especial nas áreas econômica e social.

Destaco, também, o inusitado grau de adesão do PMDB à candidatura governista. Desde o início o PMDB esteve alinhado com algumas posições. Pensou em atrair Aécio Neves para ser seu candidato. Não conseguiu. Pensou em apoiar José Serra, mas desistiu. Enfim, marchou para apoiar Dilma, apesar de algumas dissidências pontuais em São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul.

Outro fato inusitado foi a liderança de José Serra durante a fase de pré-campanha. Mesmo não sendo o favorito para vencer a disputa, Serra liderou a maior parte do tempo. Foi ultrapassado pela candidata governista somente após o início da campanha, quando Dilma foi apresentada como a candidata de Lula. O paradoxo de que a ex-ministra era a favorita – por conta da popularidade do presidente – mas não liderava a corrida pelo Planalto intrigou e confundiu muitos analistas experientes.

No campo econômico, as novidades são inúmeras. Nunca tivemos tamanhas reservas em moedas internacionais. Tampouco vivemos um processo eleitoral presidencial com tão baixa volatilidade cambial. Pelo contrário, ao longo do processo, o Real apenas se valorizou diante das demais moedas. O risco país pouco oscilou.

No exterior, a disputa eleitoral despertou inusitada atenção. Em outras eleições, a preocupação era com a adoção de medidas econômicas inconsistentes. Hoje, a expectativa é que o Brasil promova um ciclo sustentável de desenvolvimento.

Voltando ao ambiente interno, outro aspecto inusitado foi o fato de que a maior oposição ao governo veio da grande imprensa. A oposição não conseguiu criar um discurso sólido que justificasse a troca de comando do país. O PSDB, em 2002, jogou no lixo o seu maior patrimônio – o Plano Real – e tornou-se um partido sem referência.

Desde as eleições de 1982, quando o escândalo Proconsult colocou a mídia no centro do debate eleitoral, nunca a imprensa foi tão comentada. Nas últimas semanas, inconformada com os rumos da campanha, parte dela tratou a eleição de Dilma como uma ameaça à liberdade de imprensa. Nem mesmo nos tempos do mensalão houve uma atitude tão beligerante contra o PT.

O processo eleitoral deste ano trouxe outra novidade: a emergência do lulismo, objeto de várias reflexões. Destaco duas personalidades que tratam do tema: Merval Pereira, talvez o mais qualificado oposicionista a Lula no Brasil de hoje, e André Singer, que analisa o assunto sob uma perspectiva mais favorável.

Porém, nada é mais inusitado do que a aliança que se formou em torno do governo e que deseja a continuidade. Já abordei o fato em outro artigo e, mesmo sem citar os nomes dos candidatos, expliquei a dinâmica que impulsionava Dilma.

A aliança a que me refiro envolve todos aqueles que se sentem bem com o atual governo. É uma aliança informal, uma espécie de maioria silenciosa que deseja que o bom momento social e econômico prossiga nos próximos anos.

Murillo de Aragão Fonte:Blog do Noblat, acessado em 30/09/2010

Roriz, o macaco, a fraude e a piada do palhaço

Sebastião tinha 1m52 de altura, 70kg de peso e 34 anos quando morreu de diabetes, na véspera do Natal de 1996.

Oito anos antes quase conquistara a prefeitura do Rio de Janeiro, a segunda maior capital brasileira, arrebatando mais de 400 mil votos do esclarecido eleitorado carioca. Foi o terceiro mais votado entre 12 candidatos.

Se tivesse vencido, não seria empossado. A família Hominidae, da qual Sebastião fazia parte, não tinha nenhuma tradição política. Ele fazia parte de uma espécie, os pan troglodytes, popularmente conhecida como chimpanzé.

Carinhosamente aclamado pelas crianças como 'Macaco Tião' no Zoológico do Rio, ele foi a invenção política mais divertida do Casseta & Planeta, antigo programa humorístico da Rede Globo. Sebastião ganhou a eternidade no livro Guinness de recordes como o chimpanzé mais votado do mundo.

O 'Macaco Tião' é o deboche escancarado na política brasileira, que apela para o bizarro quando leva o eleitor ao voto de protesto fantasiado pela ironia, pelo bom humor e pela graça.

Isso já acontecera no final dos anos 50, nas eleições municipais de São Paulo, quando alguém se impressionou com uma praga hoje felizmente extirpada do território brasileiro: o baixo nível dos 450 candidatos que disputavam então uma vaga na Câmara Municipal.

Antecipando em três décadas o 'Macaco Tião' carioca, lançou-se em São Paulo a candidatura a vereador do rinoceronte 'Cacareco', do Zoo da capital paulista, numa época em que cada eleitor escrevia o nome de seu candidato numa cédula de papel. Cem mil paulistanos tiveram a pachorra de escrever no seu voto o nome do mamífero chifrudo e de casca mais grossa que a maioria da fauna política nacional. 'Cacareco' foi o nome mais sufragado da eleição de 1959, superando sozinho os 95 mil votos do partido mais consagrado nas urnas.

'Tião' e 'Cacareco' representam a face divertida e moleque da política.

Weslian, 1m70 de altura, 76kg de peso e 67 anos, é a faceta sem graça, a cara do escárnio, o lado mais debochado a que chegou a política em Brasília, a capital de 190 milhões de brasileiros, supostamente o centro mais esclarecido de uma multidão de 135 milhões de eleitores.

Da família Roriz, grife de um clã político que governou o Distrito Federal em quatro mandatos, num total de 14 anos, Weslian fez sua retumbante e tardia estréia nas eleições de 2010 na noite de terça-feira (28), no debate da Rede Globo com os candidatos a governador, quando faltava menos de uma semana para o pleito de 3 de outubro.

Weslian entrou no jogo eleitoral pela porta dos fundos: foi apontada na sexta-feira (24) pelo marido, o ex-governador Joaquim Roriz, que na véspera viu o Supremo Tribunal Federal empacar (5 votos contra 5) no julgamento em que ele tentava escapar dos efeitos sanitários da Lei da Ficha Limpa, que cassou Roriz por envolvimento e renúncia em um escândalo de corrupção.

Com o cálculo político da esperteza, Roriz imaginou enganar a lei e iludir os eleitores trocando seis por meia dúzia. Renunciou preventivamente e botou no lugar a mulher, dona Weslian, uma simplória dona de casa, companheira de 50 anos de casamento e dedicada a obras de cunho social e benemerente. Assim, mantinha o nome Roriz na tela de votação e o número da coligação, o que reviveu o mote de um antigo seriado de TV: o 'Casal 20'.

A frieza de carrasco de Roriz ficou evidente no debate da Globo, quando expôs a mulher a um dos mais sórdidos espetáculos de auto-imolação já encenados na política brasileira.

Weslian, coitada, surgiu no estúdio, patética e apatetada, tentando interpretar o papel que o marido lhe empurrou, goela abaixo, exibindo toda a fragilidade de um projeto político esfacelado pelo advento da Lei da Ficha Limpa. Honrada e despreparada, Weslian tropeçava na gramática, no raciocínio, no noviciado e na improvisação, trocando perguntas, confundindo candidatos e espantando a grande maioria dos 1,8 milhão de eleitores da capital brasileira.

Não soube nem mesmo administrar as dezenas de folhas, perguntas e respostas preparadas pela assessoria de Roriz, perdendo minutos preciosos tentando localizar a 'cola' salvadora. Não conseguiu nem mesmo usar, na plenitude, o tempo precioso reservado às perguntas e respostas. Não se fazia entender na hora de perguntar, não conseguia compreender a questão na hora de responder. Ao tentar responder uma pergunta sobre 'transporte público', dona Weslian lembrou que o candidato do PT, ex-comunista, não acreditava em Deus e devolveu com uma pertinente questão: "O senhor é contra o aborto?".

Foi uma das cenas mais constrangedoras e pungentes de toda a campanha eleitoral de 2010, em qualquer quadrante do Brasil.

O desamparo e o abandono de dona Weslian, jogado às feras da política pelo marido impiedoso e insensível, desatou uma imprevista corrente de piedade para com a inesperada candidata, filha de um rico fazendeiro de origem libanesa que pastoreava o cerrado do Planalto no quadriláteiro que, anos depois, JK, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer demarcariam para encravar a futura capital brasileira. Misericordiosos, os três candidatos adversários – do PT, PSOL e PV – fizeram perguntas entre si, poupando a criatura de Roriz, que tropeçava em seus papéis, em suas frases, em suas idéias inacabadas.

Weslian, cristã e católica fervorosa, invoca sempre Deus e Nossa Senhora, lembrando que acompanhou de perto a vitoriosa carreira do marido. "Ele sabe administrar uma fazenda como ninguém", confessou no debate, fazendo uma involuntária metáfora sobre o estilo que o Casal 20 agora evoca nos últimos momentos do programa eleitoral de rádio e TV, com seu lema de campanha: "Weslian vai trazer de volta o jeito Roriz de governar".

Mais do que a fraude explicitada pela manobra esperta do marido, Weslian encarnava, no estúdio refrigerado da Globo, o personagem ridículo e subalterno que joga no chão a política brasiliense. Uma proeza nada desprezível para uma cidade que já viu desfilar figuras inusitadas, folclóricas, divertidas ou lamentáveis como Fernando Collor, Cacique Juruna, Severino Cavalcanti, Paulo Maluf, Clodovil, Roberto Jefferson, Agnaldo Timóteo, José Roberto Arruda e o próprio marido de Weslian, o implacável Joaquim Roriz.

A fauna política que teima em habitar o bioma do Cerrado é gerada, em boa parte, pela flacidez das leis e pela tolerância ou pelo bom humor do eleitor que, na falta de um 'Macaco Tião' ou de um 'Cacareco', acaba descobrindo utilidades inesperadas ou debochadas para o seu voto. Agora mesmo, as previsões mais modestas apontam o palhaço 'Tiririca' como um dos campeões de voto para a Câmara dos Deputados, virtualmente eleito com quase um milhão de votos pelo PR de São Paulo, o que seria a maior votação do país.

Ao contrário do Supremo, que decidiu não decidir no julgamento de Roriz, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do DF resolveu, na tarde desta quarta-feira (29), brecar o truque do ex-governador, vetando toda a propaganda de rua e os programas de rádio e TV que exaltam o Casal 20, um flagrante desrespeito à lei e um claro embuste da renúncia voluntária e programada de Roriz. Ele não poderá mais aparecer ao lado da mulher, como fiador, conselheiro ou sequer 'amado esposo' da candidata inventada de última hora para escapar da lâmina afiada da Lei da Ficha Limpa.

Não existem evidências de que Joaquim Roriz inveje o quociente intelectual ou a vestimenta colorida de 'Tiririca'. Mas a desastrosa aparição de Weslian na corrida eleitoral e no debate da Globo reforçam a suspeita de que Joaquim Roriz vê os habitantes de Brasília com o nariz vermelho de palhaços, como aqueles que acreditam que "a política, pior do que está, não fica". Com a ajuda do ex-governador, sabe-se, sempre poderá ficar.

No domingo, dia 3, os eleitores conscientes da capital brasileira terão a chance de devolver esta piada sem graça, cravando seus votos em quem merece.

Não precisam nem eleger o macaco ou o rinoceronte. Basta repudiar a fraude.

Luiz Cláudio Cunha é jornalista, eleitor em Brasília e não vota em palhaço.
Fonte:Blog do Noblat
http://oglobo.globo.com/noblat