quinta-feira, 30 de setembro de 2010

As eleições e suas características específicas

Estamos chegando ao primeiro turno das eleições presidenciais. Ela acontece no dia 3 de outubro, domingo próximo. Cada eleição é uma eleição, com suas especificidades. O processo que estamos vivendo não é diferente e apresenta um volume inusitado de características novas em relação aos últimos pleitos. A lista é grande. Vamos a ela.

O primeiro aspecto é o fato de que nunca na história recente um presidente da República teve tanto poder de influenciar o processo eleitoral. Lula, contrariando muitos, escolheu Dilma Rousseff e está prestes a elegê-la em primeiro turno com base em seu imenso prestígio popular e graças ao sucesso do seu governo, em especial nas áreas econômica e social.

Destaco, também, o inusitado grau de adesão do PMDB à candidatura governista. Desde o início o PMDB esteve alinhado com algumas posições. Pensou em atrair Aécio Neves para ser seu candidato. Não conseguiu. Pensou em apoiar José Serra, mas desistiu. Enfim, marchou para apoiar Dilma, apesar de algumas dissidências pontuais em São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul.

Outro fato inusitado foi a liderança de José Serra durante a fase de pré-campanha. Mesmo não sendo o favorito para vencer a disputa, Serra liderou a maior parte do tempo. Foi ultrapassado pela candidata governista somente após o início da campanha, quando Dilma foi apresentada como a candidata de Lula. O paradoxo de que a ex-ministra era a favorita – por conta da popularidade do presidente – mas não liderava a corrida pelo Planalto intrigou e confundiu muitos analistas experientes.

No campo econômico, as novidades são inúmeras. Nunca tivemos tamanhas reservas em moedas internacionais. Tampouco vivemos um processo eleitoral presidencial com tão baixa volatilidade cambial. Pelo contrário, ao longo do processo, o Real apenas se valorizou diante das demais moedas. O risco país pouco oscilou.

No exterior, a disputa eleitoral despertou inusitada atenção. Em outras eleições, a preocupação era com a adoção de medidas econômicas inconsistentes. Hoje, a expectativa é que o Brasil promova um ciclo sustentável de desenvolvimento.

Voltando ao ambiente interno, outro aspecto inusitado foi o fato de que a maior oposição ao governo veio da grande imprensa. A oposição não conseguiu criar um discurso sólido que justificasse a troca de comando do país. O PSDB, em 2002, jogou no lixo o seu maior patrimônio – o Plano Real – e tornou-se um partido sem referência.

Desde as eleições de 1982, quando o escândalo Proconsult colocou a mídia no centro do debate eleitoral, nunca a imprensa foi tão comentada. Nas últimas semanas, inconformada com os rumos da campanha, parte dela tratou a eleição de Dilma como uma ameaça à liberdade de imprensa. Nem mesmo nos tempos do mensalão houve uma atitude tão beligerante contra o PT.

O processo eleitoral deste ano trouxe outra novidade: a emergência do lulismo, objeto de várias reflexões. Destaco duas personalidades que tratam do tema: Merval Pereira, talvez o mais qualificado oposicionista a Lula no Brasil de hoje, e André Singer, que analisa o assunto sob uma perspectiva mais favorável.

Porém, nada é mais inusitado do que a aliança que se formou em torno do governo e que deseja a continuidade. Já abordei o fato em outro artigo e, mesmo sem citar os nomes dos candidatos, expliquei a dinâmica que impulsionava Dilma.

A aliança a que me refiro envolve todos aqueles que se sentem bem com o atual governo. É uma aliança informal, uma espécie de maioria silenciosa que deseja que o bom momento social e econômico prossiga nos próximos anos.

Murillo de Aragão Fonte:Blog do Noblat, acessado em 30/09/2010

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