segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Em defesa de Brasília I

Os ecologicamente e os politicamente corretos que me perdoem pelo uso indevido da palavra, mas a fauna humana de Brasília não poderia ser mais diversificada. Aqui encontramos espécimes de não apenas todo o Brasil, mas de todo o mundo também. A mistura de sotaques, culturas e origens lhe cai com uma luva, afinal a Capital do País precisa representar todo o povo Brasileiro, e isso não se aplica apenas ao plano político, por isso digo que Brasília tem a maior biodiversidade humana do país.

Uma das peculariedades de Brasília é o fato de não possuir exatamente uma cultura própria. A cultura candanga é na verdade o conjunto de todas as influências recebidas em seus 50 anos. Isso reflete não apenas o movimento migratório iniciado com a construção de Brasília, mas principalmente o caldeirão cultural formado por aqueles que aqui se estabeleceram definitivamente somados aos que estão só de passagem, seja por alguns dias ou alguns meses e até mesmo uns poucos anos.

A transferência da Capital do país para o Planalto Central obrigou, como não poderia deixar de ser, todas as representações diplomáticas a se mudarem para cá, além é claro de escritórios de organismos multinacionais. Junto aos imigrantes nordestinos, aos caboclos, gaúchos, mineiros e cariocas foram incorporadas em Brasília um sem número de outras influências dos quatro cantos do mundo. Só que a mistura dessa variedade tão grande de origens não resultou em uma sopa homogênea e pasteurizada. O resultado foi um quebra-cabeças que ainda precisa ser montado, mas isso não significa que Brasília e os Brasilienses não tenham identidade, significa tão somente que damos valor ao passado que trazemos em nosso sangue e que temos orgulho de sermos a cara do Brasil. A cultura brasiliense emerge desse mar de influências a cada dia.

O Brasiliense, contudo, é mais que a simples soma das infinitas variações regionais que o Brasil apresenta. Aqui se come pão de queijo no café da manhã, não dispensa o arroz com feijão, janta um sushi (para manter a forma), na sexta tem feijoada e no final de semana churrasco. Em festa que se preze o Rock é indispensável, mas todo mundo cai na dança ao tocar um forró e os apaixonados curtem sua dor de cotovelo ao som de duplas sertanejas goianas.

O Brasil está aqui, todas as cores e sabores. No Cruzeiro se cultiva a mais fina tradição do Samba, em Planaltina a festa do Divino. Se tem jogo do Flamengo o estádio lota, se for do Inter, do Cruzeiro, do São Paulo ou ainda dos rivais também. Ao final do Brasileirão tem sempre um monte de candango com a bandeira na mão gritando "é campeão". Essa miscigenação, em grau menor reflexo daquela ocorrida quando da formação do próprio País, já rendeu muitos frutos, mas que ainda estão amadurecendo. A primeira geração de brasilienses nativos ainda sofre em grande medida os impactos dessas muilticuturalidade, ainda tem muita informação para absorver e processar. Essa dinâmica ainda levará tempo para ser digerida. E quando houver finalmente chegado o tempo da degustação desse vinho, será então a hora de se reiventar novamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário